Este trabalho é um estudo de caso etnográfico que busca explorar, descrever, analisar e interpretar o relacionamento entre duas iniciativas de jornalismo independente no Brasil, Alma Preta e AzMina, e o Congresso Nacional. O foco recai sobre dois movimentos principais: o poder de agenda desses veículos sobre o Parlamento e os efeitos de advocacy que geram ao “adentrar” a Casa. Buscando apreender a complexidade dessas relações e o cotidiano desses processos, a pesquisa aporta, assim, para a etnografia dos Parlamentos, um campo em consolidação na Ciência Política. No percurso da etnografia, foram realizadas (i) pesquisa bibliográfica em campos como representação democrática, comunicação política, agenda-setting, advocacy e lobby; (ii) análise documental de produções jornalísticas dos dois veículos; e (iii) entrevistas semi-estruturadas. Ao longo de toda a pesquisa, também se recorreu à observação participante, conjugada com a redação de um diário de bordo. Como resultado, percebeu-se que os nativos digitais Alma Preta e AzMina atualizam o histórico das imprensas negra e feminista no Brasil, atuando, também, como representantes autoautorizados em relação a temas de raça e gênero. Isso favorece, portanto, a aproximação e a afinidade com mandatos que tenham igualmente uma perspectiva feminista antirracista. Além disso, nuances ativistas são características fundantes desse jornalismo independente em sua relação com o Parlamento, conferindo-lhe autonomia, diferencial e robustez. Assim, ao mesmo tempo que Alma Preta e AzMina reafirmam sua identidade com o campo jornalístico, recusam os rótulos da isenção, da neutralidade e da imparcialidade, explicitando compromisso com o foco em raça e gênero. Com isso, contribuem para tensionar, renovar e ampliar as bordas do jornalismo canônico.