Pretende-se com essa pesquisa investigar a transgressão de valores como fator de projeção da emancipação social feminina, no Romantismo de Alencar e no Modernismo de Amado. A partir da perspectiva dos Estudos de Gênero aliados à Literatura, far-se-á uma análise das obras Lucíola, Diva e Senhora, de José de Alencar e Gabriela, cravo e canela, Mar Morto, Terras do Sem Fim e Tocaia Grande: a face obscura, de Jorge Amado. Pretende-se analisar como o lirismo desses romancistas possibilita a visão transgressora de valores das protagonistas das obras citadas. Considerando a diferença temporal que os separam, entende-se que Alencar e Amado aproximam-se ao eleger temáticas cujo centro narrativo se assenta em personagens femininas em momentos considerados de ruptura na sociedade. A diferença entre os sexos foi utilizada para justificar a hierarquização dos papéis e funções atribuídos a homens e mulheres na sociedade, contribuindo para o alijamento da figura feminina. A partir do estudo analítico descritivo das obras supracitadas, pôde-se perceber, nas narrativas de José de Alencar e Jorge Amado, características que corroboram a assunção da mulher enquanto sujeito ativo, consciente do seu papel na sociedade. José de Alencar fundiu lirismo e documentação. Jorge Amado aliou lirismo e ludicidade em suas narrativas, ambos apresentando modelos de mulheres, ora Evas, ora Marias, em sociedades com códigos e interditos contributivos do patriarcado, estando entre essas mulheres Lúcia (Maria da Glória), Aurélia de Camargo, Gabriela, Lívia, Jacinta Coroca e Don‘Ana Badaró, cujas ações e características foram estudadas nesta pesquisa, como personagens femininas que se apresentam subversivas, transgredindo as moralidades patriarcais e se emancipando enquanto sujeitos ativos e sociais. Gênero é construção social, em constante processo de (des) construção e (re) construção. Esta pesquisa torna-se oportuna por sugerir discussões acerca de papéis e funções sociais atribuídos a homens e mulheres, e a hierarquização destes papéis na contemporaneidade, quando se fala muito em liberdade. Por fim, intentou-se aqui propor uma reflexão sobre a imaginável passividade feminina, possibilitando assim que as mulheres (re) pensem a sua (re) constituição enquanto sujeito social.