O processo adaptativo ganha contemporaneamente inúmeros estudos destinados a discussão das relações dialógicas e intertextuais passíveis de ser estabelecidas nos diferentes meios, considerando, além da literatura e do cinema, outras possibilidades. Aprática da adaptação,tão comum atualmente, sempre privilegiarao fenômeno da intertextualidade, através do qual se processa, em grande parte, esse trânsito de informações e transformação de categorias; e, da intertextualidade, o olhar de vários teóricos se ampliam para a intersemiose, relação entre diferentes códigos simbólicos.Centrada numa área interartística, a adaptação, como fenômeno, revela-se um terreno fértil para investigações comparativas. Nesse contexto, destacamos a adaptação fílmica do romanceDona Flor e Seus Dois Maridos, de Jorge Amado, o livro, publicado em 1966.Dirigido por Bruno Barreto, o filme segue a linha do livro. Em 1976 recordista de público no cinema brasileiro da época, levando cerca de 12 milhões de espectadores aos cinemas. O cinema lê a obra fonte e, como fruto dessa leitura, cria outra obra de arte, que conjuga palavra, som, imagem. Dona Flor e seus dois maridos, de Bruno Barreto, é fruto de um contexto de trânsito livre entre as diversas áreas culturais; observamos, ainda, uma organicidade dialética entre montagens narrativas e montagens expressivas capazes de dar conta das traduções criativas articulando as significações das linguagens literárias e cinematográficas e/ou televisivas. Acreditamos ser pertinente relacionar essa intersemiose de práticas leitoras concretizadas pelo espaço midiático à leitura da obra impressa. Outro aspecto que parece pertinente é enfocar as próprias adaptações em comparação com o texto literário, a fim de que se reflita sobre as competências leitoras implicitadas em cada produto. Entende-se que é prioritário tirar os resultados de pesquisa de dentro dos muros da Universidade e transmutá-los em práticas pedagógicas possíveis para se formar leitores competentes.