O estudo aqui apresentado centra-se na maneira como João Cabral de Melo Neto
constrói um complexo metafórico em torno dos símbolos cidade, mulher e água,
apontando para a busca de uma unidade primordial. Esse complexo pode ser
observado, embora de modo mais disperso, desde seu primeiro livro, Pedra do sono
(de 1942), passando por outros como Fábula de Anfion (de 1947), O cão sem
plumas (de 1950), O rio (de 1953) e Morte e vida severina (de 1956). Mas apenas
em Sevilha andando (de 1990), livro em torno do qual se estabelece a
argumentação principal, a metáfora surge plenamente. A abordagem inicia-se pelo
conceito de modernidade e, mais precisamente, de lírica moderna (em que se situa
a obra de Cabral), apontando para a presença do tema da metrópole na poesia.
Apresenta-se, assim, esse momento histórico como uma modernidade
dessacralizada. A seguir, expõe-se como a poesia, a seu modo, opera, nas palavras
de Roberval Pereyr (2012), uma ressacralização da linguagem, sustentada em
elementos dos mitos, do sonho e da magia. Faz-se um breve estudo de como a
busca pela unidade primordial, por meio do complexo metafórico, está presente em
vários livros do poeta. O estudo é encerrado com uma análise do livro, onde a
cidade, a mulher e a água se combinam de modo a fazer ressurgir os elementos de
uma suposta linguagem primeira.