Introdução: A correção da hérnia incisional é uma cirurgia frequente e o uso de
telas sintéticas na posição intraperitoneal permanece um desafio. O alto índice de
recorrência nas hérnias incisionais (45 a 54%) após sutura primária estimulou o
desenvolvimento das telas de reforço. Atualmente, as telas sintéticas são o grupo de
biomateriais mais utilizados em medicina; porém seu uso aumenta o risco de
complicações inflamatórias, como seroma, celulite, dor crônica e infecção. Esse
estudo objetiva comparar as aderências viscerais, a resposta inflamatória e a
morfometria do colágeno provocada pelas telas constituídas de ePTFE, polipropileno
encapsulada com polidioxanona e revestida com celulose oxidada, polipropileno e
polipropileno revestido de silicone, em estudo experimental em ratos. Métodos:
Sessenta ratos da raça Winstar foram divididos em quatro grupos de acordo com os
tipos de telas implantadas intraperitonialmente: tela constituída de ePTFE (grupo A),
polipropileno revestida com celulose oxidada (grupo B); polipropileno (grupo C) e
polipropileno com cobertura de silicone na sua face visceral (grupo D). No sétimo dia
pós-operatório a região do implante da tela foi avaliada e as aderências analisadas
pela escala de aderências de Zuhkle. As colorações de Hematoxilina-eosina e
Masson foram utilizadas para avaliar a resposta inflamatória. Foi realizado estudo
imunohistoquímico para COX2 e a coloração de Picrosirus foi usada para análise
morfométrica do colágeno. Resultados: Pela escala de aderências observou-se que
o grupo C tinha a maior percentagem de aderências nas classificações 3 e 4 (mais
densas) quando comparadas aos grupos A, B e D (93% x 13%, 0% e 0%,
respectivamente, p<0,001). Enquanto os grupos A e C apresentaram a maior
porcentagem da área coberta de aderências, quando comparadas aos grupos B e D
(99,8% e 97,7% x 83,2% e 63,1%, respectivamente, p < 0,001), o grupo A
apresentou menor área não incorporada da tela em comparação aos grupos B, C e
D (42,1% x 15,4%, 9,4% e 14,6%, respectivamente, p < 0,001). Ao avaliar as
aderências às vísceras abdominais, a tela de polipropileno (grupo C) apresentou as
maiores taxas quando comparadas aos grupos A, B e D (78,6% x 26,7%, 53,3% e
35,7%, respectivamente, p < 0,029). A tela de ePTFE (grupo A) apresentou coleções
ou seromas em 100% dos animais, em comparação aos grupos B, C e D (66,7%,
21,4% e 35,7%, respectivamente, p < 0,001). No estudo histológico da resposta inflamatória no sétimo dia pós-operatório o grupo A apresentou maior pontuação no
escore de inflamação em relação aos grupos B, C e D (respectivamente 20,9 x 20,2,
18,6 e 18,2, p<0,001). No estudo imunohistoquímico no 70 PO, houve uma maior
expressão da COX2 (p<0,001) também no grupo A, em relação aos demais grupos.
Não houve diferença entre os grupos estudados quanto à morfometria do colágeno.
Conclusões: A densidade de aderências foi maior na tela do grupo C e menor na
tela do grupo D; a área coberta de aderências foi maior nas telas do grupo A e grupo
C; a área não incorporada da tela foi maior na tela do grupo A, não tendo havido
diferenças entre as demais telas; houve diferença significante entre os grupos
quando comparada a presença de aderências viscerais, sendo de maior grau na tela
do grupo C e menor na tela do grupo A; a presença de coleção, seroma ou
hematoma foi maior na tela do grupo A e menor na tela do grupo C; houve diferença
significante entre os grupos quando comparada a classificação inflamatória, sendo
maior grau na tela do grupo A e menor na tela do grupo D; não houve diferença
significante entre os grupos, quando comparada a deposição de colágeno avaliada
pela coloração de Picrosirus; a intensidade da inflamação avaliada pela presença da
COX2 foi maior na tela do grupo A e, menor na tela do grupo D.