Introdução: as causas da limitação ao exercício nos pacientes com DPOC são multifatorias.
Sabe-se que uma das principais consequências fisiopatológicas da doença é a ocorrência da
hiperinsuflação dinâmica (HD) durante o exercício que, além de ocasionar dispnéia limitante,
pode interferir negativamente com o débito cardíaco. Recentemente, vem se observando que
há vários padrões de comportamento ventilatório durante o exercício neste grupo de
pacientes, sendo que, em alguns, o recrutamento da musculatura abdominal, ainda que
amenize ou evite a HD, poderia ser deletério, com possível comprometimento dos ajustes
hemodinâmicos. Considerando-se que os broncodilatadores (BD) poderiam interferir no
padrão e na intensidade do recrutamento da musculatura abdominal, além de influenciar
variavelmente na HD, seria lícito supor que tais medicamentos poderiam interferir
variavelmente nas respostas cardiocirculatórias ao exercício nestes pacientes. Objetivos:
investigar o efeito da administração de dose única, por dosímetro inalatório, de BD β2-
adrenérgico de curta duração, comparativamente ao uso de placebo, no comportamento
dinâmico do volume torácico total e de seus compartimentos operacionais (cinemática
ventilatória por pletismografia optoeletrônica), e suas possíveis consequências nos ajustes
cardiocirculatórios e na tolerância ao exercício de pacientes com DPOC moderada à grave.
Métodos: foram avaliados prospectivamente 28 pacientes portadores de DPOC moderado a
grave. Os pacientes realizaram testes de função pulmonar e dois testes de exercício cardiopulmonares
(TECP) em cicloergômetro com carga constante até o tempo limite de tolerância,
um após inalação de placebo e outro após inalação de BD. A carga utilizada foi de 75% da
carga pico atingida no TECP incremental realizado previamente. Além das respostas
convencionais do TECP, eram obtidos o volume torácico total e o volume dos componentes
operacionais pulmonares, da caixa torácica e do abdome, respiração-por-respiração, por
pletismografia optoeletrônica e o débito cardíaco por cardioimpedância transtorácica. Os
pacientes foram separados em respondedores e não-respondedores com relação à
resposta ao BD obtida pela medida da capacidade inspiratória (aumento maior que 300ml no
teste pós BD). Resultados: a administração de BD associou-se com uma resposta variável de
volume e aumentou de forma significativa a capacidade de exercício no grupo
respondedor (24 ± 37% vs. -3 ± 24% nos não-respondedores, p < 0,05), assim como
levou a um maior recrutamento da musculatura expiratória abdominal (- 0.18 ± 0.02 vs. -
0.01 ± 0.002 nos não-respondedores, p < 0,05). Houve redução do volume torácico total e
dos compartimentos operacionais com o uso do BD analisando o grupo como um todo. Ao
dividirmos os pacientes em respondedores (N = 13) ou não-respondedores (N = 15),
observamos redução do volume torácico total e dos compartimentos operacionais apenas no
primeiro grupo, sendo que tal redução deveu-se principalmente ao compartimento caixa
torácica, que foi responsável por 57% da redução do volume expiratório final. Apesar de
evidências indiretas de que tais efeitos tenham melhorado a complacência dinâmica e a
limitação ao fluxo expiratório, estes não se associaram com melhores ajustes hemodinâmicos
ao exercício (p > 0.05). Conclusão: nossos achados indicam que o efeito primário dos BD
reside, nos pacientes com redução dos volumes pulmonares operacionais, na melhora da
hiperinsuflação pulmonar (caixa torácica), com efeito secundário de maior recrutamento da
musculatura abdominal expiratória. Tais consequências são geralmente benéficas mas não
necessárias aos pacientes para ocorrer melhora da tolerância ao esforço e não parecem
modular as respostas hemodinâmicas ao exercício de carga constante neste sub-grupo de
pacientes.