A atividade aquícola tem se intensificado cada vez mais, em contrapartida, uma série de
problemáticas como os surtos de bacterioses, são cada vez mais imprevisíveis e acabam
surgindo, surgindo nos sistemas de criação. Como remediação, o uso por vezes negligente
de antibióticos, estimulam a seleção de genes de resistência dos microrganismos à estes
fármacos. Assim, surge a necessidade do desenvolvimento de técnicas produtivas mais
sustentáveis na aquicultura, afim de dispor de opções terapêuticas eficazes para reduzir
as perdas em massa na criação de diversas espécies. Entre elas, o piauçu Megaleporinus
macrcephalus, se destaca entre as espécies nativas, que é muito apreciada e tem grandes
perspectivas produtivas. Como alternativa, os probióticos são usados para incrementar o
desempenho produtivo, melhorar a qualidade sanitária e imunológica dos animais. São
microrganismos vivos capazes melhorar a conversão de nutrientes da dieta, melhoram o
equilíbrio da microbiota intestinal e ajudam na prevenção de doenças através da
modulação do sistema imune do hospedeiro. Assim, a pesquisa objetivou isolar,
selecionar in vitro bactérias autóctones do intestino de M. macrcephalus e avaliar o seu
efeito, nas fases iniciais de desenvolvimento da espécie, sobre o desempenho do
crescimento, modulação da microbiota e morfologia intestinal, além da resistência contra
bactérias patogênicas. O estudo foi conduzido em duas etapas: a primeira em isolar e
selecionar a cepa com potencial probiótico por testes in vitro. Para tanto, as cepas foram
selecionadas do trato intestinal de 15 espécimes saudáveis e inoculadas em placas de Petri
contendo Man Rogosa Sharped Agar (MRS), por 48 horas, a 35 ºC. Para o isolamento
foram utilizados testes de catalase, coloração de Gram, tolerância a diferentes gradientes
de NaCl (1, 2 e 3%), diferentes valores de pH (4, 5, 6, 8 e 9) e sais biliares (2,5 e 5%),
além do halo de inibição contra bactérias patogênicas Aeromonas hidrophila, Aeromonas
caviae, Aeromonas jandaei, Pseudomonas aeroginosa, Streptococcus agalactiae. Para a
identificação das cepas isoladas, foi utilizado o método de espectofotometria de massa de
MALDI-TOF-MS. Todos os testes foram realizados em delineamento inteiramente
casualizado, com 4 repetições. Para os testes in vivo, náplios de Artemia sp. enriquecidas
com probiótico autóctone Enterococcus faecium, pelo método de imersão durante 40 min,
logo após foram ministradas em quatro tratamentos (C: sem probióticos; T1: 1,0 x 104
;
T2: 1,0 x 106
e T3: 1,0 x 108 UFC.mL-1
) foram utilizados, em quadruplicata. As larvas
(n=160; peso = 5,3 ± 2,3 mg e comprimento = 3,73 ± 0,4 mm) foram distribuídas em
recipientes de 16 L na densidade de 10 larvas.L-1
durante 20 dias. Além disso,
simultaneamente, outro experimento foi constituído de seis tratamentos, conduzido em
delineamento inteiramente ao acaso, em esquema fatorial 3 x 2, composto por três
frequências de alimentação (2x, 3x e 4x.dia) e duas dietas (I sem probiótico) e (II com
probiótico), em cinco repetições, fornecidos via alimento vivo enriquecidas com
probióticos, pelo mesmo método de enriquecimento do experimento anterior. As larvas
(n= 300; peso = 5,2 ± 2,6 mg e comprimento = 3,69 ± 0,4 mm) foram distribuídas em 30
recipientes de 1 L na densidade de 10 larvas.L
-1
. Após o período de experimentação, o
desempenho produtivo, a sobrevivência, a microbiologia e histomorfometria intestinal
foram medidos, além do desafio agudo contra a bactéria patogênica Aeromonas
hydrophila. Os resultados apresentaram 42 cepas isoladas no experimento in vitro, com
destaque para as cepas ST1 e ST9 que apresentaram maiores valores (P<0,05) para células
viáveis totais (31,80 ± 0,07 e 32,51 ± 0,05 UFC/mL × 108
), respectivamente. Nos testes
de resistência, as cepas ST1 e ST9 apresentaram os melhores resultados, com destaque
para ST9 em altos gradientes de pH, altos valores de sais biliares (2,5 e 5%), além dos
maiores halos de inibição (19,40 ± 0,99 e 19,08 ± 0,79), contra Aeromonas hydrophila e
Aeromonas jandaei, respectivamente. As cepas com melhores resultados nos testes, ST1
e ST9, foram identificadas pelo método de MALDI-TOF-MS como Enterococcus
faecium (20218_1 CHB). Para os testes in vivo, a suplementação com 1,0 x 108 UFC.mL1
promoveu maior ganho de comprimento (13,78 ± 0,40 cm) e peso total (0,08 ± 0,002 g),
maior contagem de bactérias lácticas, menor de heterotróficos totais nos intestinos e
maiores vilosidades intestinais. As dietas contendo probióticos influenciaram na
resistência dos animais à infecção aguda, com menor mortalidade acumulada em T3 e
maior em C+. Os resultados das frequências de alimentação mostraram interação
significativa (p<0,05), com as maiores médias de ganho de comprimento e peso total para
as frequências de 3 e 4x.dia (dieta II) suplementadas com probiótico. Houve interação
significativa para as contagens de bactérias, mas sem difererenas estatísticas para as
frequências de alimetações, com maiores contagens de bactérias ácido láticas na dieta
suplementada com probióticos (2x = 4,46 ± 0,00; 3x = 4,58 ± 0,06 e 4x = 4,65 ± 0,03
CFU.g-1
- dieta II) e maior contagem de bactérias heterotróficas totais (2x = 3,88 ± 0,04;
3x = 3,96 ± 0,03 e 4x = 4,04 ± 0,07 CFU.g-1
- dieta I) nos intestinos dos peixes. As dietas
contendo probióticos influenciaram a resistência dos animais na infecção aguda, com
menor mortalidade acumulada no grupo 4x.dia – dieta II, ao contrário do C+. Assim, a
bactéria isolada E. faecium, isolada do trato intestinal do piauçu pode ser recomendada
para uso probiótico na criação do M. macrocephalus na concentração (1,0 x 108 UFC.mL1
). A suplementação via alimento vivo é uma alterativa de inclusão de vários produtos e
substancia na larvicultura, em especial, o probiótico promoveu melhoria no desempenho
de crescimento, na modulação da microbiota intestinal e nas vilosidades do intestino e,
maior resistência frente a bactéria patogênica. Além disso, a suplementação probiótica
com a bactéria autóctone, nas frequências de 3 e 4x.dia também proporcionam melhora
zootécnica, modulação da microbiota dos peixes e maior sobrevivência na infecção aguda
contra A. hydrophila.