Introdução. O melanoma é uma neoplasia maligna originada dos melanócitos cutâneos com diversas classificações. O melanoma tipo acral lentiginoso apresenta características clínicas e histopatológicas diferentes dos demais tipos de melanomas, com prevalência menor na população caucasiana e maior em asiáticos, hispânicos e afrodescendentes. Anatomicamente, acomete extremidades, áreas não expostas à radiação ultravioleta como palma das mãos, planta dos pés e região subungueal, tem altos índices de letalidade e sobrevida curta, embora de incidência baixa. A técnica de tissue microarray permite a avaliação de diversas amostras teciduais simultaneamente, além da análise de grande variedade de marcadores biológicos em um mesmo experimento. Um estudo combinando a análise da expressão de fatores de proliferação celular, apoptose e a utilização da técnica de tissue microarray seria de grande utilidade para o entendimento do início e progressão do melanoma acral lentiginoso. Objetivo: Avaliar a expressão de proteínas e estudar genes relacionados à patogênese do melanoma acral lentiginoso. Objetivos específicos: 1) Avaliar a expressão imuno-histoquímica das proteínas SCF, KIT, BRAF, CICLINA D1, MYC, PTEN, 2) Avaliar as alterações no gene PTEN (10q23) pela técnica de FISH, 3) Correlacionar a expressão das proteínas avaliadas por imuno-histoquímica com as alterações do gene estudado, 4) Correlacionar a expressão das proteínas avaliadas por imuno-histoquímica e as alterações do gene estudado com dados anatomopatológicos, clínicos, demográficos e de seguimento. Pacientes e métodos: Estudo retrospectivo com dados de pacientes com diagnóstico histopatológico de melanoma cutâneo do tipo acral lentiginoso, maior ou igual a 1,0 mm, realizado na Escola Paulista de Medicina. Foram utilizados blocos de parafina do tumor primário arquivados no Departamento de Anatomia Patológica e os dados demográficos, clínicos e de seguimento foram obtidos dos prontuários destes pacientes. A partir destas amostras, foram preparadas lâminas pela técnica de tissue microarray, utilizadas para avaliação de: expressão das proteínas SCF, KIT, BRAF, CICLINA D1, MYC, PTEN, por imuno-histoquímica; alterações no gene PTEN (10q23) em amostras de melanoma acral lentiginoso por FISH. Resultados:.Foram revisado casos de 2006 a 2010 dos 49 pacientes com melanoma acral lentiginoso, 24 eram do sexo feminino (48,97%) e 25 do sexo masculino (51,03%), com média de idade ao diagnóstico de 60,94 anos, (16 - 82 anos). O tumor primário localizou-se nos pés em 44 pacientes (89,8%) e nas mãos em 5 pacientes (10,2 %). Quanto à etnia, 30,6% era branca (15 pacientes), 34,7% era afrodescendente (17 pacientes), 4,1 % foram registrados como não brancos
(2 pacientes) e 15 pacientes (30.61%) não possuíam informação Dos 49 melanomas estudados, todos apresentaram crescimento vertical, 63,26% continham ulceração (31 casos); o índice mitótico médio foi de 3,37 mitoses/mm2, variando de 0 a 22,5 mitoses/mm2; a profundidade de Breslow média foi de 6,95mm, variando de 1,2 a 30,0 mm e a média dos níveis de Clark foi de IV, variando de III a V A correlação de malignidade com a positividade e heterogeneidade de expressão de SCF foi significativa p=0,001; p<0,000 respectivamente bem como para KIT positividade p=0,005; heterogeneidade p=0,003, MYC positividade p<0,000; heterogeneidade p<0,000; PTEN positividade p=0,005; heterogeneidade p<0,000. A positividade de BRAF e CICLINA D1 não foram significativas p=0,053, p=0,259 respectivamente; porem a heterogeneidade p<0,000, p=0,024 são significativas Para o gene PTEN foi feita a analise de hibridização in situ fluorescente contudo devido a problemas pré analíticos o exame não pode ser realizado em diversas amostras. a correlação entre a alteração do número de copias e a malignidade não é significativa p =0,798 pelo teste de Mann-Whitney. As correlações dos dados de metástase, positividade e heterogeneidade não são significativos para nenhum dos marcadores. Discussão: Houve distribuição equitativa quanto ao gênero (mulheres: 48,98%, homens: 51,02%). Em relação à etnia, não foram encontrados orientais e houve baixo número de afro-descendentes, embora a soma destes aos pardos resultou em maioria dos pacientes (55,8%) concordando com o relatado por Bradford (Bradford et al., 2009). Os parâmetros histopatológicos mencionados anteriormente refletem um diagnóstico tardio, resultando em pior prognóstico, devido ao estádio avançado da doença (Balch et al., 2009). Neste trabalho, procuramos minimizar a subjetividade na análise da expressão imuno-histoquímica das proteínas estudadas, diferindo das publicações nacionais e internacionais, que definem uma porcentagem pré-estabelecida de células positivas, assim como de intensidade de marcação semi-quantitativa (Hoos et al., 2001; Sviatoha et al., 2002; Pacifico et al., 2004; Ohsie et al., 2008; Torres-Cabala et al., 2009; Bai et al., 2012; Park et al., 2012; Long et al., 2013) Com base nos resultados obtidos foram feitas associações de marcação positiva e de heterogeneidade dois a dois, que resultaram em um alto poder de discriminação. As 5 maiores razões de chance da amostra ser maligna se os marcadores forem positivos são: BRAF-MYC (78,2), PTEN-MYC (37,14), SCF-MYC (30), BRAF-SCF (27,3), KIT-SCF (18), e se os marcadores expressarem heterogeneidade BRAF-MYC (95,33), SCF-MYC (43,31), BRAF-SCF (33,58), PTEN-MYC (31,25), KIT-SCF (18,31) Os resultados indicam que a heterogeneidade de expressão imuno-histoquímica tem maior potencial
diagnóstico comparando-se com a positividade pura e simples dos marcadores. Esta abordagem não parece ter sido usada para tal propósito em melanomas. A teoria e observação da heterogeneidade intratumoral e intertumoral surgiu após o estudo da resistência as terapias alvo especificas (Wilmott et al., 2012; Yancovitz et al., 2012) e ainda não é aceita por toda a comunidade cientifica mas esse panorama vem mudando.Apesar destas associações precisarem ser comprovados com uma coorte maior, estudo duplo-cego e a inclusão de amostras limítrofes para serem confirmados, os resultados aqui obtidos são muito promissores e pioneiros. Conclusões: A heterogeneidade tem maior poder discriminatório do que a positividade dos marcadores e a interação dos marcadores de proteína BRAF-MYC se destacam muito em ambos os quesito.