Neste trabalho, realizo um estudo sobre algumas das mulheres do Assentamento Santa
Rosa/Córrego das Posses, localizado em Minas Gerais/Brasil, que são beneficiárias
titulares do lote e as implicações da posse em suas experiências de vida. O objetivo foi
compreender se e como o direito formal à propriedade reposiciona as mulheres
trabalhadoras rurais em âmbito doméstico e público ou, em outra palavras, confere a
elas maior capacidade de negociação. Para isso, consideramos os processos de luta pela
terra que foram os responsáveis pela formação do assentamento de reforma agrária em
1992 e as trajetórias de vida dessas mulheres. O trabalho teve como referência o estudo
de Carmen Deere e Magdalena Leon (2002), que aponta que a construção de igualdades
reais para as mulheres rurais está vinculada à conquista de bens materiais, em especial à
posse terra. O Assentamento foi escolhido, principalmente, devido à participação das
mulheres na luta pela terra e por algumas terem a posse individual do lote. Os
procedimentos de pesquisa para a coleta dos dados foram: observação participante,
entrevistas semi-estruturadas e análise documental. A pesquisa indica que a posse
formal influencia as possibilidades de negociação das mulheres principalmente quando
a posse é operada concomitantemente a outras dimensões que foram narradas, como a
renda, divisão sexual do trabalho, relações sociais de apoio e família. Isso se dá, entre
outras coisas, porque as assentadas do Santa Rosa/Córrego das Posses não acionam a
posse formal como uma conquista relacionada a seus direitos enquanto mulheres, mas
como um resultado de experiências que muitas vezes remetem à vulnerabilidades pelas
quais passaram ao longo de suas vidas.