O presente trabalho busca refletir sobre a proporção de ocupação do espaço
urbano por seus diferentes modais e pedestres. Reconhecido o protagonismo dos
veículos motorizados no desenho das atuais estruturas urbanas brasileiras, quando nos
bairros estudados de Ramos e Bonsucesso, no Rio de Janeiro, 68% do espaço das
vias chega a ser destinado para a circulação de veículos automotivos, se objetiva
entender melhorias nessa estrutura das cidades e na sua própria conceituação, capazes
de agir sobre diversas de suas nuances sociais, paisagens e ambiências urbanas,
aumentando possibilidades de coesão sócio territorial e da própria apropriação dos
espaços públicos. Pautado no conceito de adaptabilidade (LYNCH, 1981), relacionado
à capacidade dos ambientes de responderem às demandas sociais e ambientais e a
necessidade ou não de transformações construtivas para tal, passa-se a entender como
a estrutura urbana potencializa ou inibe determinadas práticas sociais e a própria
vitalidade do espaço urbano.
As infraestruturas de mobilidade são assim objetos de pesquisa,
metodologicamente sendo estudados parâmetros de geometria viária hoje adotados
para a própria estruturação dos espaços de vias e como esses, a partir da discussão de
medidas mínimas para o fluxo veicular, podem apresentar novas possibilidades de
desenho urbano, mais inclusivos e vinculados a especificidades de cada contexto local.
Paralelamente, as próprias formas atuais de classificação viária são discutidas,
objetivando se estabelecer novas categorias classificativas que, complementando a
classificação hierárquica funcional, direcionada ao espaço veicular, garantam ao
desenho de geometria das vias, condicionantes oriundas das demandas de seu contexto
urbano e da própria apropriação desses espaços pelo corpo, seja como pedestre, ou
em seu estar no espaço público.
A discussão dessas infraestruturas viárias em sua relação como outros
elementos compositivos da estrutura urbana — lotes, quadras, edifícios, vazios urbanos
e espaços livres — busca vincular aos resultados do trabalho a própria interação entre
esses elementos entendendo que estes se moldam permanentemente um ao outro, e a
intervenção pura e simples do eixo viário teria o poder de transformação reduzido. A
reciprocidade de interação entre os eixos de mobilidade e algumas das características
desses outros elementos é levantada, sendo abordados a formação dos vazios, as
testadas de lotes, a porosidade de fachadas, a monofuncionalidade de áreas entre
outros parâmetros, e como estes são incorporados nas proposições de adaptabilidade
das infraestruturas viárias.
Os resultados apresentados disponibilizam possibilidades de redução do espaço
veicular em média de 16,3 % e junto a um conjunto de proposições em vazios urbanos
buscam trazer novas perspectivas de organização social a curto prazo, em que
determinado espaço-bairro (LOPES DE SOUZA,1994) consiga construir e/ou reforçar
dinâmicas de sociabilidade pautadas no caminhar e permanência no espaço público. A
nova categorização de vias, em vias de vizinhança, vias de espaço-bairro, vias cidade,
vias região e vias de condições especiais, traduz para a o estudo da geometria viária e
dimensionamento de calçadas e canteiros centrais, perspectivas e demandas tanto dos
contextos urbanos, quanto dos pedestres, capazes de se apresentar como possibilidade
de guia para projetos urbanos, considerados também os parâmetros apresentados para
as larguras de faixas de rolamento das vias.