Treme: gênero e trabalho em uma comunidade extrativista da região costeiro-estuarina
do Pará é resultado do estudo desenvolvido no período de agosto de 2011 a janeiro de 2013, na
Vila do Treme, no entorno da Reserva Extrativista Marinha Caeté-Taperaçú, no município de
Bragança-Pará, com o principal objetivo de verificar as mudanças ocupacionais e o envolvimento
das mulheres nessas mudanças na comunidade. De abordagem qualitativa, na qual se elegeu,
para análise, três categorias: a memória, o gênero e o trabalho. Para isso foram organizados
três grupos: dos mais idosos, na faixa de 80 a 97 anos (N = 9), o dos idosos, na faixa de
60 a 79 anos (N = 5) e dos adultos, na faixa etária de 40 a 59 anos (N = 4), para coleta das
narrativas das memórias. Contudo também se usou o quantitativo, quando foram aplicados
questionários em 24% dos domicílios da comunidade, para identificação da atual ocupação
econômica da Vila. Como resultados, constatou-se que a comunidade teve início nos primeiros
anos de 1900, quando os moradores, pela proximidade das águas, se dedicaram a pesca, mas
dividindo trabalho com a agricultura familiar, sob a responsabilidade da mulher. Nos meados
de 1960 iniciou o processo da coleta do caranguejo, que foi aumentando, nos anos 70, e na
agregação de valor ao produto, em 1983, foi implantado a catação: local do beneficiamento
do caranguejo, tendo a mulher como trabalhadora remunerada. A partir dos anos 90, com a
intensificação e expansão da atividade houve mudança na organização da catação do caranguejo,
que passou a ser catado nos domicílios, sob a responsabilidade da mulher. Atualmente a coleta
(masculina) e o beneficiamento (masculino e feminino) do caranguejo é a atividade predominante
na Vila, e, embora ainda mantenha a tradição do pescado, praticamente abandonou a agricultura.
Portanto, na atualidade, a ocupação econômica da Vila do Treme está baseada principalmente,
na coleta e beneficiamento do caranguejo, na qual há forte divisão social e sexual do trabalho.