Resumo:
O Projeto de Leitura Compartilhada tem sua origem em uma proposta americana em que o foco
é começar com o conto de histórias, diariamente, até alcançar o ideal da leitora autônoma. Nessa
iniciativa coloca-se a criança surda exposta a literatura, mais especificamente, ao objeto livro
onde possa visualizar as duas línguas de seu país: a língua de sinais e a língua escrita majoritária.
O Shared Reading Project, como é chamado nos EUA, defende a possibilidade de evolução da
leitura para crianças surdas ao iniciarmos esse hábito o quanto antes; preferencialmente, desde o
bebê de colo. Assim como as famílias americanas, detectou-se os mesmos problemas de
repertório, da necessidade da ampliação vocabular em ambas as línguas - na língua de sinais e na
escrita da língua majoritária do país. Tanto as famílias ouvintes de surdos americanos quanto as
famílias de surdos brasileiros não são fluentes na língua de sinais, além disso educadores de
surdos muitas vezes desconhecem as estratégias para fazer uma boa contação de histórias. Tatiana
Lebedeff (2007, 2011 e 2015) acolhe o projeto americano para pensar a leitura compartilhada e
o(s) letramento(s) para escolas brasileiras e Taveira, Pimentel e Rosado (2022) criam material
empírico sobre a adaptação do projeto ao grupamento de surdos, surdocegos e dos alunos surdos
com necessidades variadas visando a experimentação de materiais didáticos e de estratégias que
explorem a democratização da imagem na escola. Em nossa pesquisa houve a adequação desse
projeto à realidade de surdos, surdocegos e das pessoas surdas com deficiências variadas
(autismo, baixa visão, paralisia cerebral), visando a formação dos professores do Departamento
de Ensino Superior (DESU) do Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Nossos
Pedagogos precisavam enfrentar o desafio e a responsabilidade de lecionar para a diversidade de
identidades presentes em sala de aula, se baseando em uma língua de sinais fluente para fazer
contação de histórias, bem como produzir e montar materiais didáticos multissensoriais; são eles:
os livros ampliados e adaptados além dos materiais multissensoriais e objetos criados com
texturas tanto quanto os livros que vão se transformando em brinquedos e material de reconto.
Foi usada uma parte especial dessa pesquisa para investirmos na Libras tátil bem como na
teatralização, por vezes, também em uma familiarização com a comunicação háptica que é um
sistema de códigos complementar a Libras-tátil e muito importante nas apresentações de teatro.
Nosso foco principal é observar como um surdocego mestrando, em atividade de professormonitor beneficiaria o curso de Pedagogia no desenvolvimento pedagógico de novas técnicas e
de produtos apropriados para explorar determinados temas de histórias e para isso, mapeamos a
experiência de mediação no processo de leitura compondo uma proposta de formação de
professores para conto de histórias no curso de Pedagogia do INES. Realizamos um total de 160
horas, metade delas para imersão nas turmas e outra metade para formação de turmas, com
duração de dois meses a cada etapa. Como precisamos utilizar comunicação visual, especialmente
acessível às condições viso-gestuais-táteis (VGT) dos surdos, conforme defende Ladd &
Gonçalves (2011), e o apoio das interpretações táteis, em Libras e Libras tátil, defendemos a
necessidade de abrir espaço ao toque nos objetos e materiais, a comunicação entre pessoas surdocegas e surdas. Nos norteamos por alguns referenciais teóricos, a saber: Mesquita (2006),
Aragão (2016); Aragão e Taveira (2021); Souza e Maia (2014); Canuto et al (2019); CaderNascimento (2010; 2020) dentre outros. Para democratizar a linguagem visual e compreensão da
composição visual de objetos - como cenário, livros ilustrados, livros com textura, glossário e
sinalário – tivemos como principal responsabilidade, focar na produção de materiais
multissensoriais para todas apresentações observando que surdocegos podem seguir aplicando
aquisição com resíduo visual, com a Libras tátil, expressão facial e corporal intensificada e com
variação de distâncias e posição. Concluímos que é preciso qualificar materiais didáticos e
multissensoriais além de explicitar as qualidades de texturas feitas nos materiais, cenários,
exposições e isso se daria, principalmente, nos Cursos de Pedagogia. É importante ressaltar que
surdocegos devem colaborar juntamente com professores surdos e ouvintes observando e
propondo a adequação dos materiais didáticos antes de serem entregues para crianças surdocegas
porque há diferença entre os materiais e os tipos de surdocegueira, sempre contando que o
processo comunicativo está permanentemente em negociação.
Abstract:
The Shared Reading Project has its origins in an American proposal in which the focus is to start
with storytelling, on a daily basis, until reaching the ideal of the autonomous reader. In this
initiative, the deaf child is exposed to literature, more specifically, to the object book where he
can visualize the two languages of his country: sign language and the majority written language.
The Shared Reading Project, as it is called in the USA, defends the possibility of reading evolution
for deaf children when we start this habit as soon as possible; preferably from the baby in arms.
As with the American families, the same repertoire problems were detected, the need to expand
vocabulary in both languages - in sign language and in the writing of the majority language in the
country. Both hearing American deaf families and Brazilian deaf families are not fluent in sign
language, and deaf educators are often unaware of strategies for good storytelling. Tatiana
Lebedeff (2007, 2011 and 2015) welcomes the American project to think about shared reading
and literacy(s) for Brazilian schools and Taveira, Pimentel and Rosado (2022) create empirical
material on the adaptation of the project to the group of deaf, deaf-blind and deaf students with
different needs, with a view to experimenting with didactic materials and strategies that explore
the democratization of the image at school. In our research, this project was adapted to the reality
of the deaf, deafblind and deaf people with various disabilities (autism, low vision, cerebral
palsy), aiming at training teachers at the Department of Higher Education (DESU) of the National
Institute of Education of Deaf (INES). Our Pedagogues needed to face the challenge and
responsibility of teaching for the diversity of identities present in the classroom, relying on a
fluent sign language to do storytelling, as well as producing and assembling multisensory teaching
materials; they are: the expanded and adapted books in addition to the multisensory materials and
objects created with textures as much as the books that are transformed into toys and retelling
material. A special part of this research was used to invest in tactile Libras as well as in
theatricalization, sometimes also in a familiarization with haptic communication, which is a
complementary code system to tactile Libras and very important in theater presentations. Our
main focus is to observe how a deaf-blind student doing a master's degree, as a teacher-monitor,
would benefit the Pedagogy course in the pedagogical development of new techniques and
appropriate products to explore certain themes of stories and for that, we mapped the experience
of mediation in the reading process composing a teacher training proposal for storytelling in the
Pedagogy course at INES. We performed a total of 160 hours, half of them for immersion in
classes and the other half for formation of groups, lasting two months at each stage. As we need
to use visual communication, especially accessible to the visual-gestural-tactile conditions (VGT)
of the deaf, as defended by Ladd & Gonçalves (2011), and the support of tactile interpretations,
in Libras and Libras tactile, we defend the need to open space to the touch objects and materials,communication between deafblind and deaf people. We are guided by some theoretical
references, namely: Mesquita (2006), Aragão (2016); Aragão and Taveira (2021); Souza and
Maia (2014); Canuto et al (2019); Cader-Nascimento (2010; 2020) among others. To democratize
the visual language and understanding of the visual composition of objects - such as scenery,
illustrated books, books with texture, glossary and signage - our main responsibility was to focus
on the production of multisensory materials for all presentations, noting that deafblind people can
continue to apply acquisition with residue visual, with tactile Libras, intensified facial and body
expression and with variation of distances and position. We conclude that it is necessary to qualify
didactic and multisensory materials in addition to explaining the qualities of textures made in
materials, scenarios, exhibitions and this would happen, mainly, in Pedagogy Courses. It is
important to emphasize that deafblind people must collaborate together with deaf and hearing
teachers, observing and proposing the adequacy of teaching materials before they are delivered
to deafblind children, because there are differences between materials and types of deafblindness,
always bearing in mind that the communicative process is permanently under negotiation