Este estudo tem como preocupação nuclear analisar os diversos modos de figurativizações do fracasso presentes nos protagonistas da obra Fogo Morto (1943), como resultado do processo de mudanças sociais pelos quais passara o Nordeste brasileiro, desde o século XIX, até as primeiras décadas do século XX, mais especificamente, na região da Várzea da Paraíba. Como objetivos específicos, procuramos delinear nossa investigação em três momentos: compreender os procedimentos estéticos de José Lins do Rego na configuração das personagens de Fogo Morto; apreender as diversas formas de figurativizações do fracasso como elemento modelador físico-psicológico de seus atores sociais e situar a figura do fracassado no conjunto das relações sociais caracterizadas na forma romanesca da citada obra. Justificamos a importância desta abordagem, na medida em que, esta obra proporciona um estudo de como o fracasso projeta-se em seus protagonistas no contexto mais amplo do romance de 1930 e do Nordeste canavieiro do escritor paraibano. Para tratar das questões referentes ao contexto do Romance de 1930 e de sua contribuição na literatura brasileira, seguimos o direcionamento de Albuquerque (2006), Bueno (2006), Carpeaux (2005), Freyre (2000), Rego (1997) (2004) (2010) e Coutinho (1991); acerca do herói fracassado na literatura enquanto resultado das transformações sociais, através de Bakhtin (1990), Candido (1987) (1991), Coutinho (1991) e Paes (1990); para tratar das questões referentes às penalizações sofridas pelos indivíduos por um sistema economicamente falido, buscamos norteamento seguindo os estudos de Candido (1991), Lukács (2003) e Coutinho (1991), entre outros. Para a materialização do nosso trabalho, partimos do método indutivo, seguido de uma pesquisa, bibliográfica, documental, descritiva e de uma abordagem qualitativa. Por fim, percebemos que os resultados da nossa investigação mostram que o fracassado na obra Fogo Morto se modela a partir do declínio de uma sociedade, despreparada para a nova ordem social, imposta pela industrialização dos engenhos de cana-de-açúcar no Nordeste e de suas novas relações de poder que subjugam a todos, não mais por meio de um Senhor de terras, despótico e patriarcalista, mas sim, por meio da Usina que esmaga, não só a cana-de-açúcar, mas toda uma sociedade e os que dela sobrevivem, restando para estes, apenas, a amargura, a ruína e a ilusão de uma possível vitória