A pandemia Covid-19 de forma geral impôs a necessidade de
distanciamento social, inviabilizando a participação em programas de exercícios
presenciais e uma das alternativas encontradas foram os programas de
exercícios remotos em domicílio. Buscou-se investigar os efeitos de um
programa online de exercícios físicos multicomponente com dupla tarefa nos
aspectos funcionais e cognitivos de idosos da comunidade. Participaram de uma
análise transversal 28 idosos (média de 67,64 ± 4,23 anos, e 27,60 ± 5,52 Kg/m²)
de ambos os sexos. Foram alocados para o grupo exercício 10 idosos (média de
67,30±4,71 anos, 28,70±5,03 Kg/m², 9 mulheres e 1 homem), 8 idosos para o
grupo controle (média de 68,75±4,86 anos, 24,63±6,34 Kg/m², 8 mulheres), e 10
para outra intervenção que não faz parte desse estudo. Foram avaliados quanto
à função cognitiva (Montreal Cognitive Assessment-MoCA), capacidade
funcional (Short Physical Performance Battery- SPPB, preensão manual),
mobilidade funcional (Timed Up and Go-TUG simples, TUG cognitivo com
contagem regressiva, custo da dupla tarefa- CDT), nível de atividade física
(International Physical Activity Questionnaire-IPAQ), estado de depressão
(Geriatric Depression Scale-GDS) e qualidade de vida (Short-Form Health
Survey-SF-36). O programa de exercícios teve duração de 12 semanas, com
três sessões semanais (60 minutos/sessão) de exercícios de aquecimento
articular, equilíbrio estático e dinâmico, fortalecimento muscular, atividades de
marcha, dupla tarefa e relaxamento. Para comparação entre grupos e períodos
foi realizada a intenção de tratar por meio do modelo de equações de estimativas
generalizadas, nível de significância p<0,05. Na análise transversal, a cognição
global avaliada pelo MoCA apresentou correlação moderada e positiva com a
velocidade da marcha, fraca e positiva com a pontuação total no SPPB,
moderada e negativa com o TUG e TUG cognitivo. Após o programa de
exercícios o Grupo Exercício apresentou melhora estatisticamente significativa
para os testes de sentar e levantar 5 vezes (pré= 10,44 ± 0,89 e pós= 9,08 ±
0,62; ΔS= -1,36 ± 0,39; p= 0,003), preensão manual (pré= 23,06 ± 1,86 e pós=
25,09 ± 1,84; ΔS= 2,03 ± 0,64; p= 0,009) e atividade física total semanal (pré=
2011,0 ± 424,3 e pós= 3720,6 ± 449,8; ΔS=1709,6 ± 548,8; p= 0,01). A
velocidade da marcha do Grupo Exercício alcançou o valor de pequena mudança
significativa considerada clinicamente importante (pré= 1,16 ± 0,10 e pós= 1,22
± 0,09; ΔS= 0,06). Quanto ao tempo sedentário o Grupo Exercício reduziu 33%
a média (pré= 2275,5 ± 376,2 e pós= 1749,0 ± 326,7; ΔS= -526,4 ± 342,6) e o
Grupo Controle aumentou em 22% (pré= 1566,2 ± 223,9 e pós= 2065,1 ± 500,6;
ΔS= 498,8 ± 428,0). O aumento do comportamento sedentário está
correlacionado à menor mobilidade e pior qualidade de vida, sendo necessário
interromper esses longos períodos e manter os idosos ativos. Um programa de
exercícios físicos associados às tarefas cognitivas parece ser fundamental para
independência do idoso. No entanto mais estudos devem ser explorados para
fornecer uma melhor compreensão da relação entre o treinamento físico
multicomponente com dupla-tarefa e a cognição.