Esta dissertação tem como objetivo analisar a ocorrência de estratégias de impolidez e o
processo de perda de face nos votos dos Ministros do Supremo Tribunal Federal. Desenvolveuse especial interesse pelas decisões proferidas pelos Ministros do STF por ser este o órgão de
cúpula do Poder Judiciário. Diante da importância deste órgão e de suas decisões dentro do
ordenamento jurídico brasileiro, esta pesquisa tem como foco as sessões plenárias de votação
das Ações Diretas de Inconstitucionalidade. Observou-se que essas sessões não transcorrem
com a cortesia que se espera de Ministros da mais alta Corte do Poder Judiciário. Para o
desenvolvimento das análises, foram utilizadas a teoria dos atos de fala (AUSTIN, 1975;
SEARLE, 1969), o ritual de interação face a face (GOFFMAN, 2002; 2012) e a polidez
linguística (BROWN; LEVINSON, 1987; LAKOFF, 1989; KERBRAT-ORECCHIONI, 2006;
LEECH, 2014; CULPEPER, 1996; 2010; 2015), mais especificamente, os estudos voltados para
a impolidez. Para a composição do corpus desta pesquisa, foram utilizados dois critérios de
seleção: repercussão do tema e equilíbrio entre votos contrários e favoráveis. Após verificar
que sessões plenárias atendiam simultaneamente aos dois critérios, passou-se à fase de
transcrição. Utilizou-se como base a proposta de Marcuschi (2006) para que se produzisse o
quadro de convenção de transcrição com as ocorrências observadas nas sessões plenárias, como
falas simultâneas, pausas e mudanças de entonação. Ressalte-se que, nesta pesquisa, procurouse analisar não somente o uso de estratégias de impolidez ou de preservação de face, mas,
também, como a interrupção, a sobreposição de fala e as falas simultâneas se estabelecem como
estratégias impolidas e de que forma o uso da indiretividade se relaciona a aspectos impolidos
da interação entre os Ministros do Supremo Tribunal Federal. Percebeu-se, ao final das análises,
a ocorrência de diversas estratégias de impolidez: impolidez positiva, impolidez afetiva,
impolidez negativa, impolidez coerciva, impolidez falsa e impolidez direta. Observou-se, ainda,
que o processo de perda de face estava relacionado ao uso das estratégias de impolidez direta e
que os ciclos corretivos, quando ocorreram, precisaram ser impostos por quem detinha poder
para tal. Além disso, notou-se que os momentos de interrupção, sobreposição de fala ou falas
simultâneas não apresentavam uma relação direta com a intenção de ameaçar a face do outro.
Por fim, foi possível perceber que o uso da indiretividade está situado em um continuum entre
polidez e impolidez.