Estima-se que cerca de 10% da população mundial sejam residentes de zonas costeiras
de baixa altitude: áreas consideradas vulneráveis diante de uma eventual elevação do nível
médio do mar. No Brasil, o município de Niterói - estado do Rio de Janeiro -, compreende duas
macrorregiões distintas, em termos de exposição das áreas litorâneas aos efeitos desta possível
variação do nível das águas: a primeira, banhada pela baía de Guanabara, composta por áreas
abrigadas e semiabrigadas; a segunda, banhada pelo Oceano Atlântico, caracterizada por uma
formação barreira-laguna, exposta às ondas de origem S, SW e SE. Objetivou-se, desta forma,
analisar as vulnerabilidades ambientais do município de Niterói, nos meios físico, biológico e
socioeconômico, e seus prováveis impactos diante de uma possível elevação do nível do mar,
como resultado das alterações climáticas, seguindo projeções globais da NOAA (National
Oceanic and Atmospheric Administration), para o ano 2100, além de apresentar propostas de
mitigação e adaptação, visando minimizar e/ou evitar tais impactos. Metodologicamente, o
trabalho foi conduzido em três etapas: i) classificação das vulnerabilidades ao longo da área
litorânea do município em função do uso e ocupação do solo e do grau de exposição à dinâmica
costeira, em nove setores de análise, utilizando-se matriz adaptada do Macro Diagnóstico da
Zona Costeira e Marinha do Brasil. A matriz consistiu em atribuir, em cada setor, valor de risco
de 1 a 4 (sendo 4 a condição mais crítica), para quatro variáveis: uma relacionada aos aspectos
naturais/físicos (exposição à ação das ondas), uma relacionada aos aspectos naturais/biológicos
(percentual de áreas naturais de proteção costeira em terras de baixa altitude) e duas
relacionadas aos aspectos socioeconômicos (densidade demográfica e renda per capita em
terras de baixa altitude). O resultado constituiu da média simples dos valores atribuídos, de
modo a se obter classificação em cinco níveis de vulnerabilidade: muito baixa, baixa,
intermediária, alta e muito alta; ii) simulações de possíveis cenários futuros de inundação,
considerando-se as projeções de elevação do nível do mar otimista, intermediária e pessimista
da NOAA, representadas pelas elevações de 0,50m, 1,20m e 2,50m, respectivamente, em duas
situações distintas: a) áreas de inundação em condições de máximas marés astronômicas
positivas; e b) áreas de inundação em condições de máximas marés meteorológicas positivas,
concomitantes às máximas marés astronômicas positivas. As simulações foram processadas por
sistema de informação geográfica SIG ArcGis, utilizando-se Modelo Digital de Elevação,
obtido por tecnologia LIDAR (Light Detection and Ranging), disponível no portal
SIGeo/Niterói; e iii) elaboração de propostas de adaptação e/ou mitigação. As análises
indicaram a macrorregião da baía de Guanabara como mais vulnerável em termos
socioeconômicos, em função da alta densidade populacional e do relativo baixo poder
aquisitivo da população, e a Região Oceânica como mais vulnerável às questões físicas, tanto
relacionadas às inundações quanto à dinâmica das ondas. Entretanto, através de pesquisas
bibliográficas, verificou-se que, mesmo durante as máximas marés, grandes ondas
permaneceriam restritas ao ambiente praial, em cota inferior às estruturas urbanas.