O famoso título de um dos textos da Audre Lorde nos serve de imperativo: “as
ferramentas do senhor nunca vão desmantelar a casa-grande”. Em nossa perspectiva do Sul,
não podemos nos deixar ser tutelados nem pelos colonizadores, nem pelos seus desviantes.
Nosso trabalho se alinha à perspectiva de produzirmos nossos conceitos a partir daquilo que
nos constitui, fazer de nossa história o motor de nossa produção, fabricarmos conceitos para
interpretação e aberturas de mundos. Compreendendo a importância de conceito de liberdades
para as lutas contra o colonialismo no Brasil, ontem e hoje, nos propomos a construção deste
conceito em conjunto com as histórias não apagadas e as estórias que o vento faz retornar. Um
outro conceito sedimentado no chão das Américas e não às transcendências de tradição euro-
americanas. Nesse sentido, na esteira da proposta de Abdias Nascimento, por uma ciência do
quilombismo, nos inspiramos nas experiências quilombistas no Brasil, estritamente nos
diversos quilombos que territorializaram nosso país, e como ponte, um exemplo de desvio atual,
que ainda lutam e produzem nas liberdades. Inspirados no bordado do filé, teceremos outra
proposta metodológica para saberes populares, privilegiando as descontinuidades e suas
amarrações. Partimos da hipótese de que sob os desejos de liberdades, na coincidência desta
com a vida, quilombos se organizaram, viveram e lutaram bravamente, assim como retornaram
aos seus senhores quando destruídos, construíram novos quilombos, morreram “em auto de
resistência”. As liberdades discutidas aqui são produzidas, sobretudo, no cotidiano, nas relações
com a terra, nas pequenas lutas dentro das senzalas, nas barganhas com os proprietários de
“escravos”.