A memória é uma estratégia para a narrativa, em que o narrador recorre à sua experiência para contar aos seus ouvintes sua história e as de seu grupo. A atitude de narrar as lembranças faz com que a cultura da comunidade seja repassada às novas gerações, o que impede o esquecimento dos costumes. A literatura, que acompanha a sociedade há muito tempo, representa, por diversas vezes, a transmissão da cultura de uma geração para outra, através de velhos narradores. Na obra infantil de Monteiro Lobato, clássico da literatura brasileira, os narradores Dona Benta, Tia Nastácia e Tio Barnabé evitam a morte de seus conhecimentos, pois os tecem através da contação para as crianças do Sítio: Narizinho, Pedrinho e a boneca Emília. O objetivo deste trabalho é analisar o modo como Lobato representa a cultura brasileira por meio da memória dos velhos personagens/narradores. A análise é bibliográfica e apresenta discussões sobre memória e narrador na transmissão da cultura no Sítio do Picapau Amarelo. Para tanto, utiliza-se, como principais embasamentos teóricos, os estudiosos: Benjamin (1993) com suas considerações sobre narrador; Le Goff (1990), Bosi (2009), os quais abordam a memória. Nunes (2000), Barbosa (1996), Kupstas (1988), Zilberman e Lajolo (1986), pesquisadores da vida e obra de Monteiro Lobato. O trabalho discute também a importância da leitura lobatiana, ancorado nas ideias de Calvino (1993) com sua abordagem sobre os clássicos da literatura. A justificativa dessa pesquisa está no fato da obra infantil de Monteiro Lobato ser um marco para a literatura brasileira. Pretende-se colaborar para os estudos a respeito da saga infantil do renomado escritor, a qual, apesar de já dispor de diversas análises, ainda tem muito material para ser estudado, sobretudo por causa de sua riqueza de assuntos e abordagens.