A cunicultura tem grande potencial de crescimento em um país onde a produção animal é muito significativa. Além disso, conhecer o estado atual do bem-estar do coelho é importante para planejar sua melhoria nas granjas. No Brasil, os dados disponíveis são escassos e pouco se sabe sobre a indústria do coelho e seu bem-estar. Os objetivos deste estudo foram caracterizar as granjas de coelhos brasileiras e avaliar a aplicabilidade de um protocolo de bem-estar para coelhos em crescimento, machos, fêmeas e láparos em granjas com diferentes finalidades de produção de coelhos: carne, animais de estimação e ensino ou pesquisa. Três granjas para coelhos de estimação, quatro para carne e cinco para coelhos de pesquisa ou ensino foram visitadas, e os dados de produção e características da granja foram coletados. Para as características da granja, um total de 1170 coelhos e 617 gaiolas foram avaliados. Para avaliação do bem-estar, foram usados dois protocolos separados, um para coelhos em crescimento e outro para machos e fêmeas. Doze granjas, compreendendo um total de 1557 coelhos (843 coelhos em crescimento, 190 machos, 149 fêmeas em lactação e 375 coelhas em não lactação), foram avaliadas. A maioria das propriedades (58,3%) tinha de 21 a 60 fêmeas em reprodução. Considerando todas as propriedades, os cunicultores relataram taxa média de concepção de 71,8%, taxa de prolificidade de 6,7 láparos por parto, intervalo médio entre partos de 65 dias e 6,3 partos / coelha / ano. A mortalidade média para coelhos reprodutores foi de 10,4%, e para coelhos em crescimento (coelhos pós-desmame até o abate ou até a venda) foi de 1,7%. A área média de uma gaiola foi de 0,43 ± 0,1 m², com densidade animal média de 3 coelhos / m² para coelhos em crescimento. O sistema de gaiola mais comum usado pelos cunicultores foi o sistema de flat-deck (66,7% das propriedades) com gaiola de arame (91,7%). Comedouros de metal (41,7%) e argila (33,3%) foram os tipos de comedouros mais comuns, e bebedouros automáticos tipo nipple estavam presentes em 75% das propriedades. Em relação à aplicação dos protocolos, a avaliação do princípio da boa alimentação, demonstrou o uso de bebedouros com medidas de altura acima das recomendações e um padrão comum de um bebedouro por gaiola, principalmente nas gaiolas de fêmeas e machos. Em relação aos bons princípios de alojamento, foram comuns a ausência de registro diário da temperatura ambiente e da frequência de queima dos pelos. A ausência de plataforma elevada nas gaiolas e a ausência ou mau estado dos apoios para os pés também impactaram os resultados desse princípio. O princípio de boa saúde foi afetado pela presença de pododermatite, sarna e pela idade de desmame praticada nas granjas. A avaliação do princípio do comportamento apropriado revelou o isolamento dos animais em algumas granjas. A falta de enriquecimento ambiental foi um problema para todos os tipos de produção de coelhos. O protocolo de avaliação para coelhos em crescimento obteve o princípio da boa saúde com pontuações mais baixas e o princípio do comportamento apropriado com pontuações mais altas. O protocolo de avaliação para fêmeas e machos indicou pontuações mais baixas para bom alojamento e pontuações mais altas para o princípio da boa alimentação. Observou-se que algumas medidas foram influenciadas pelo número de coelhos, principalmente em granjas com menor número de coelhos. Foi possível descrever algumas características das granjas brasileiras, como porte das granjas e índices zootécnicos. Sobre a avaliação de bem-estar, uma adaptação do protocolo, principalmente para o número de coelhos e raças avaliadas, poderia ser utilizada para mostrar a realidade da cunicultura brasileira. É necessário incentivar e melhorar a divulgação das atuais recomendações de bem-estar cunícola para cunicultores e pesquisadores.