BONECINI-ALMEIDA, Leandro. A autonomia territorial das nações originárias
amazônicas: o Governo Territorial Autônomo da Nação Wampís. 2021. 360p. Tese
(Doutorado de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade). Instituto de
Ciências Humanas e Sociais, Departamento de Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade.
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2021.
O problema central desta pesquisa é entender as transformações ocorridas na região noroeste
da amazônia no Peru, especialmente o desenvolvimento histórico do Governo Territorial
Autônomo da Nação Wampís (GTANW). O objetivo principal é analisar as dinâmicas
socioespaciais dados os múltiplos fatores de seu ordenamento, diferentes escalas de agência
nesta nova etapa de expansão do capitalismo, que promove o encontro contraditório de
formas societárias diversas. Tais regiões estão historicamente subordinadas na estrutura do
sistema mundo moderno-colonial, que hierarquiza blocos de poderes globais, países e, no
interior destes, suas regiões. A partir da caracterização desses conflitos no tempo presente, são
analisadas as formas de reinvenção e reconstrução da autonomia territorial das nações
originárias amazônicas, entre outros casos por toda América Latina frente, as dinâmicas
hegemônicas do capitalismo global. Tais conflitos operam em diferentes escalas, sobretudo
pelas indústrias legais e ilegais da mineração, das matrizes energéticas, desmatamentos e
queimadas, agronegócios e outros extrativismos que ameaçam as nações originárias em toda
Amazônia. A autonomia é abordada a partir de diferentes metodologias em diálogo com as
práticas e conhecimentos da Nação Wampís, suas cosmologias, as comunicações
comunitárias que se dão em seu território integral. São mobilizadas referências teóricopolíticas de diferentes espaços e tempos: a etnohistória e a antropologia amazônica peruana; a
literatura historiográfica oficial, documentos de arquivo e literaturas diversas; suas oposições;
as teorias e experiências sensíveis sobre as autonomias “indígenas”; dos debates sobre o
desenvolvimento e o extrativismo; a problematização das ciências de estado, especialmente,
dos censos nacionais; e finalmente as teorias latinoamericanas críticas da comunicação. O
centro do contato com o pensamento e o agir segundo a ética wampís se deu justamento no
trabalho cotiado de comunicação comunitária com o GTANW e a Nação Wampís. A presente
pesquisa mais que pretender esgotar este conjunto de complexas agendas, pretende ser uma
abertura a temas, literaturas, metodologias e práticas não amadurecidas ou consolidadas nas
ciências sociais brasileiras ou feitas no Brasil. Esta característica se apresenta como desafio e
horizonte de permanente elaboração e troca nos territórios materiais e intangíveis da Nação
Wampís.