A síndrome do overtraining (SOT) é condição resultante do desequilíbrio
entre intensidade de treinamento e tempo de recuperação, ocasionando redução do
desempenho e fadiga. Objetivou-se investigar biomarcadores séricos musculares e
perfil hematológico de ratos Wistar submetidos a um protocolo treino para provocar as
condições FOR (functional overreaching) ou NFOR/SOT (nonfunctional overreaching)
(PT). A amostragem inicial foi de 49 animais. Estes foram aleatoriamente distribuídos
em 3 grupos iniciais: grupo sedentário (S, n=16), que não realizou nenhuma atividade
física; grupo semissedentário (SSED, n=16), que realizou programa de
condicionamento leve; grupo treinado (TR, n=33), que foi submetido a PT de 12
semanas. Para avaliação da aptidão física, os ratos foram submetidos a sete testes
máximos de performance (TMP). No TMP-7, os animais do grupo TR foram
subdivididos em dois grupos (FOR: n=19 e NFOR: n=14), identificados pela diferença
da inclinação (α) obtida a partir da regressão linear dos desempenhos individuais nos
TMP-2, 3, 4, 5, 6 e 7. Após o TMP-7, 8 ratos de cada grupo foram submetidos à
eutanásia para obtenção de amostras. Realizou-se hemograma e citometria de fluxo
de hemácias. Quantificaram-se as atividades séricas da creatina fosfoquinase (CK),
aspartato aminotransferase (AST), lactato desidrogenase (LHD) e mioglobina.
Avaliou-se as atividades da troponina cardíaca I (cTnI), isoenzima MB da
creatinaquinase (CK-MB), lactato desidrogenase (LHD) e mioglobina. Foi determinada
a relação miocardiossomática. Foram quantificados nos miocárdios a respiração
mitocondrial máxima, atividade da citrato sintase (CS), e proteína indicadora de
estresse (HSP70). Aplicou-se análise de variância de uma via (ANOVA One Way).
Constatou-se valores superiores nos grupos SED e SSED em relação ao FOR para
contagem de hemácias (RBC), hemoglobina (Hb) e hematócrito (Hct). O volume
corpuscular médio (VCM) foi superior no grupo NFOR em comparação a SED e SSED.
A contagem total de linfócitos foi maior no grupo NFOR em relação ao grupo FOR. A
citometria de eritrócitos, a população 2 (P2) de RBC do grupo NFOR foi superior ao
FOR. Não houve diferença entre os grupos para de CK, LDH e mioglobina. A AST do
grupo SED foi menor que os demais grupos. Não houve diferença nas atividades
séricas dos biomarcadores cardíacos entre os grupos. A relação miocardiossomática
de NFOR foi superior aos demais grupos. O ganho de peso corporal foi semelhante
entre FOR e NFOR, sendo este menor em relação a SSED. Não houve diferença da
respiração máxima mitocondrial entre os grupos. A CS foi maior grupo NFOR em
relação ao SED. A HSP70 foi maior no grupo SED, semelhante entre SSED e NFOR
e menor no grupo FOR. A redução das variáveis eritrocitárias nos grupos FOR e
NFOR foram associadas à expansão do volume plasmático e hemólise provocada por
traumas inerentes ao desafio esportivo. A resposta leucocitária do grupo FOR pode
estar relacionada à diminuição da resposta do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal a
agentes estressantes. A citometria de fluxo das hemácias mostrou-se promissora na
diferenciação de FOR e NFOR. O condicionamento prévio pode ter atenuado a
resposta dos biomarcadores musculares nos grupos treinados. À bioquímica sérica
cardíaca evidenciou uma possível atenuação dos biomarcadores, como mecanismo
adaptativo. O aumento da massa cardíaca em NFOR pode estar associado à
hipertrofia deste órgão ou ao menor ganho de peso corporal. A avaliação da função
mitocondrial evidenciou alterações adaptativas na célula muscular cardíaca em
resposta ao protocolo de endurance, encorajando estudos complementares.