Fasciola hepatica é relatada como um trematódeo de grande importância, sendo causador da fasciolose, uma das doenças parasitárias zoonóticas mais negligenciadas no mundo. No Brasil, foram calculadas perdas potenciais ao redor dos US$ 210 milhões anuais, somente com a fasciolose bovina. O Estado de Santa Catarina está localizado na região Sul do Brasil, contando com mais de 4 milhões de cabeças de ruminantes. O Planalto Serrano Catarinense é composto por 18 municípios, os quais possuem tradição agropecuária consolidada, principalmente na pecuária extensiva de ruminantes. O objetivo do presente trabalho foi pesquisar a ocorrência e distribuição de casos autóctones de fasciolose bovina no Planalto Serrano, bem como investigar a presença dos caramujos vetores na região. Para isso, foram realizadas análises em propriedades rurais de sete municípios e em três abatedouros do Planalto Serrano. Propriedades rurais foram aleatoriamente selecionadas e visitadas, sendo realizada coleta de amostras fecais de até 20 bovinos por propriedade, com idade superior a um ano, incluídos também de forma aleatória. Estas amostras foram acondicionadas em caixa térmica e transportadas ao LAPAR para realização de exame coproparasitológico de sedimentação. Nestas propriedades, foram realizadas buscas ativas pelos gastrópodes vetores e realizada a identificação morfológica dos espécimes coletados. Ainda, foram analisados dados de rastreamento de bovinos abatidos em três frigoríficos da região, entre os anos de 2018 e 2021. No total, houveram coletas em 102 fazendas, em sete municípios, totalizando 1.837 bovinos testados. Destes, 178 (9,7%) foram positivos e autóctones. Dos 670 caramujos coletados, 62 foram pioneiramente identificados como Pseudosuccinea columella, uma das principais espécies vetoras de F. hepatica. Nos abatedouros, durante o período foram abatidos 9.826 bovinos, sendo que 1.625 (16,5%) animais eram positivos e, de acordo com os relatórios de movimentação animal, nunca deixaram a Mesorregião Serrana. O presente estudo confirmou a presença de casos autóctones da fasciolose bovina em municípios do Planalto Serrano Catarinense e verificou um alto índice de positividade em animais abatidos em frigoríficos de Inspeção Estadual. O caramujo P. columella, importante hospedeiro intermediário do trematódeo, foi identificado pela primeira vez nos municípios de Lages, Capão Alto e Painel. Quando comparamos a prevalência da fasciolose bovina in vivo com o índice de positividade post mortem, houve diferença entre estes resultados nos municípios de Bocaina do Sul, Lages, Painel e Urupema (p-valor <0,05). Houve concordância entre estas análises apenas no município de Capão Alto (p-valor = 0,22), enfatizando a necessidade da investigação a campo para o correto entendimento da distribuição e frequência deste parasito. Sendo assim, novos estudos são essenciais para a avaliação dos fatores epidemiológicos importantes para a ocorrência da fasciolose bovina, contribuindo para o planejamento e implementação de medidas eficientes para o controle da doença e diminuição das perdas econômicas decorrentes da parasitose.