A ideia de Nação brasileira é uma que se funda na mistura, mistura essa que tem
em sua composição os povos indígenas. É isso que observamos, por exemplo, em
produções de ordem sociológica e literária. No caso do Direito, porém, esse mesmo
elemento da mistura pouco aparece, prevalecendo um Direito que deve ser
positivado (escrito) e oriundo da figura do Estado (monismo jurídico). Nesse cenário,
estão inseridas as discussões de acesso à Justiça, as quais buscam garantir o
acesso a esse Direito de Códigos e Tribunais. Assim, a partir de um aporte teórico e
metodológico que faz dialogar Direito e Antropologia, é apresentada uma
juridicidade outra: aquela dos Mbyá Guarani, a qual compreende o Direito desde
Mitos, Sonhos e Donos. Para tanto, etnograficamente, foi realizado trabalho de
campo junto a Tekoá Pará Roké, localizada no município de Rio Grande, no estado
do Rio Grande do Sul/Brasil; bibliograficamente, deu-se preferência ao uso de
autores e autoras pós-estruturalistas nos dois campos principais (Direito e
Antropologia) deste trabalho, aliando-se a aportes dos estudos decoloniais. É
realizado, assim, um empenho no sentido de complexificar as formas
organizacionais dos Mbyá Guarani, vistas, muitas vezes, de forma simplificadora
pelo Direito Moderno, sobretudo nos debates acerca do acesso à Justiça. Por fim,
foi realizado ensaio fotográfico cujo propósito vai no sentido de convidar o leitor ou a
leitora a articular as discussões aqui apresentadas, refletindo sobre essas a partir de
um recurso imagético.