Um dos bioindicadores de ecotoxicidade mais utilizados em ensaios de laboratório é a Artemia salina, um microcrustáceo. O glifosato é um herbicida muito utilizado na agricultura, mas apresenta toxicidade como desregulador endócrino. Na prática homeopática é comum o tratamento de intoxicações pelo uso de isoterápicos: diluições homeopáticas de uma substância tóxica usadas para tratamento de indivíduos expostos às mesmas substâncias. Objetivo: Verificar a possível proteção de Artemia salina exposta ao glifosato pela adição de isoterápicos na água, por meio da avaliação das alterações comportamentais e morfológicas, bem como das propriedades físicas da água. Métodos: 0,6g de cistos de Artemia salina foram mantidos em garrafas de cultura, em 400mL de água do mar artificial, seguindo técnica padrão de oxigenação, luminosidade e temperatura, para promover sua eclosão em 48 horas. O glifosato foi inserido na água no momento da inserção dos cistos, na concentração letal 10% - CL 10 ou 0,002%. Os isoterápicos (Gly 6cH, 30cH, 200cH) foram preparados na véspera, em água purificada, a partir de matrizes medicamentosas previamente preparadas em farmácia credenciada na ANVISA utilizando amostras de glifosato do mesmo lote e inseridos na água de forma concomitante, na proporção de 1% do volume total de água. Ao final de 48 horas, o conteúdo líquido da garrafa contendo os estágios iniciais (I a V) de náuplios foi recolhido em um Becker, seu conteúdo foi homogeneizado e 100mL foram filtrados para obtenção da água remanescente. A água reservada foi congelada em alíquotas para posterior análise físico-química (interação com corantes solvatocrômicos). A parte não filtrada dos náuplios foi distribuída em lâminas para avaliação do desenvolvimento morfológico em microscópio óptico e uma outra parte foi distribuída em tubos transparentes na quantidade de 10 náuplios por tubo (6 tubos por grupo), para análise comportamental. Os tratamentos foram feitos em cego e os códigos foram revelados após a análise estatística. Em uma segunda etapa, a eclosão dos cistos foi observada em placa de 96 poços, com diferentes graus de salinidade e concentrações de glifosato, sendo a eclosão e a mobilidade dos náuplios registradas por câmera digital e analisadas pelo software Image J, plug-in Trackmate. Ao final, as amostras de água foram congeladas para análise físico-química utilizando corantes solvatocrômicos. Resultados: Gly 6cH aumentou a vitalidade de náuplios e a proporção entre náuplios saudáveis e defeituosos, bem como reduziu e retardou a eclosão de cistos. Os efeitos sobre a eclosão foram mais evidentes em água com 80% de salinidade e quando da exposição a baixas concentrações de glifosato (CL10). Não foram observadas diferenças entre os tratamentos em relação à locomoção dos náuplios, mas houve tendência de aumento nesse parâmetro na intoxicação com CL50. A interação das amostras de água com corantes solvatocrômicos mostrou que a cumarina foi um marcador físico-químico específico do Gly 6cH. Conclusão: Gly 6cH apresentou efeitos protetores sobre o desenvolvimento da Artemia salina exposta a baixas concentrações de glifosato (CL10), sendo o corante solvatocrômico cumarina um potencial marcador físico-químico de valor preditivo, sugerindo mecanismos relacionados a mudanças de polaridade da água.