Este estudo objetiva analisar os temas da diáspora, do amor e da religiosidade em canções da
banda Dr. Raiz, a fim de investigar, considerando o primado do interdiscurso, de que formas
elas discutem as invenções e reinvenções de identidades nordestinas. Para tanto, discute os
efeitos de sentido produzidos por essas materialidades e os seus atravessamentos, deparando-
se tanto com reproduções como com transformações dos enunciados pré-construídos,
produtores de construções estereotipadas dessas identidades. A partir dos fundamentos da
Análise do Discurso francesa, realiza-se um recorte teórico-metodológico dos conceitos de
sujeito, discurso, interdiscurso, formações ideológicas/discursivas, tendo o trajeto temático
como metodologia de pesquisa e realizando a análise dentro de uma perspectiva pecheutiana,
considerando os postulados de J. Courtine (1999), D. Maldidier e Guilhaumou (2016), bem
como algumas referências da AD no Brasil. Outras fontes utilizadas no campo dos estudos
culturais são: Hall (2006), Silva (2014) e Bauman (2005), além de autores importantes para os
estudos regionais sobre o Nordeste, especialmente aqueles que participam das coletâneas sobre
as invenções e reinvenções nordestinas, como Albuquerque Jr. (2011). O corpus da pesquisa é
constituído essencialmente pelas letras das canções presentes no álbum Dr. Raiz, lançado no
ano de 2005. Ademais, foram realizadas entrevistas com os integrantes e coletados materiais
como fotos e notícias, a fim de investigar as condições de produção das canções como
acontecimentos discursivos, etapa crucial do processo de análise, que compreende o caráter
multimodal do gênero em questão. Assim, a compreensão da cultura caririense e da sua História
nos recortes temporais e discursivos das canções permite apreender os efeitos de sentido dos
enunciados analisados, demonstrando a estreita relação que as canções mantêm com dizeres
outros e anteriores. Conclui-se, portanto, que os trajetos temáticos percorridos no interdiscurso
produzem identificações dos sujeitos com algumas formações discursivas, causando efeitos de
saudade, de desidentificação com o machismo, de crítica ao fanatismo religioso, questionando
formações ideológicas dominantes e produzindo identificações fragmentadas, inacabadas, das
identidades nordestinas.