No presente estudo 246 amostras clínicas oriundas de granjas de suínos comerciais
nas regiões sul, sudeste e centr-oeste do Brasil, previamente vacinadas contra PCV2
e que apresentavam sinais clínicos compatíveis com PCVD foram submetidas para
genotipagem de PCV2. O tipo de material enviado para diagnóstico foram amostras
de fluido oral, soro e pool de órgãos linfoides. Das amostras analisadas, 106 (43.09%
- 106/246) foram genotipadas, sendo 75.47% (80/106) identificadas como PCV2d e
22.64% (24/106) identificadas como PCV2b. Em 2/106 (1.89%) amostras foram
verificadas co-infecção de PCV2b e PCV2d. Não houve detecção do genótipo PCV2a
nas amostras analisadas. Dentre as amostras clínicas analisadas, o fluido oral obteve
um maior número de amostras genotipadas (40/106-37.74%), seguido de pool de
órgãos linfóides e soro, com o mesmo número de amostras genotipadas (33/106-
31.13%). Adicionalmente, 51 amostras clínicas brasileiras coletadas em 2019 foram
enviadas para sequenciamento genético do gene ORF2, que codifica a proteína do
capsídeo viral (Cap). Destas, 25 apresentaram boa qualidade para análise, sendo 8
genotipadas como PCV2b e 17 como PCV2d, confirmando que no Brasil, como
descrito mundialmente, houve o aumento do genótipo PCV2d. Para analisar a
distribuição temporal dos genótipos e flutuação mundial dos genótipos desde 1993 à
2019, 3,544 sequencias disponíveis no GenBank foram analisadas, demonstrando um
considerável aumento do genótipo PCV2d a partir de 2006, sendo hoje, o genótipo
mais prevalente no mundo. Para estimar a variabilidade da Cap protein de nossas
sequencias de PCV2d, comparamos nossas amostras com outras 1,300 sequencias
de PCV2d disponíveis no GenBank. Com o objetivo de avaliar a possível pressão
vacinal sobre o o genótipo PCV2d, separamos as sequencias em 4 grupos: (1) Pre
vacinação (PreVacD) - sequencias de amostras coletadas antes de 2006; (2) Pós
vacinação (PosVacD) - sequencias de amostras coletadas entre 2007 e 2020; (3)
sequencias de suínos selvagens ou de vida livre(WboarD) que não sofreram pressão
vacinal; e (4) nossas sequencias de PCV2d (TestD), analisadas no presente estudo..
Devido às possíveis falhas vacinais observadas nas granjas de suínos comerciais no
Brasil, as amostras de PCV2d sequenciadas no presente estudo foram comparadas
com as sequencias da ORF2 disponíveis de três vacinas comercias utilizadas no
Brasil, uma contendo o genótipo PCV2b e duas contendo o genótipo PCV2a. Grande
parte dos resíduos de aminoácidos que se encontram dentro de regiões de epítopo
são conservadas, sugerindo uma boa reação cruzada entre as amostras vacinais e
as amostras de PCV2d analisadas. Contudo, em alguns resíduos de aminoácidos em
sítios antigênicos, essencias para ligação de anticorpos e, consequentemente,
neutralização viral, foram detectadas mutações entre as sequencias de PCV2d e as
sequencias vacinais. Este resultado sugere que estas mutações possam ter
importancia em relação à resposta. Porém, mais estudos devem ser realizados para
elucidar essas questões, principalmente a implementação de processos de vigilância
de genótipos de Circovirus suínos tipo 2 circulantes no Brasil.