As leishmanioses são doenças negligenciadas endêmicas em 98 países, constituindo um grande
problema de saúde pública devido à sua alta incidência e letalidade. Estima-se que ocorram
entre 700.000 a 1 milhão de novos casos de leishmaniose cutânea e 50.000 a 90.000 novos casos
de leishmaniose visceral em todo o mundo a cada ano. Tem como agente etiológico mais de 20
espécies do gênero Leishmania, transmitidas por espécies diferentes de flebotomíneos dos
gêneros Lutzomyia e Phlebotomus. Os tratamentos convencionais causam efeitos adversos
graves, baixa tolerância, desenvolvimento de cepas resistentes, além de serem onerosos. Nesse
contexto, os produtos naturais têm sido investigados na busca por novas alternativas
terapêuticas. O líquido da casca da castanha do caju (LCC), um dos principais subprodutos do
cajueiro, é uma fonte natural de compostos fenólicos, como ácido anacárdico (AA), cardanol
(CN) e cardol (CD), e apresenta atividades antioxidantes, antiinflamatórias, antimicrobianas,
antitumorais, larvicidas e inseticidas. Seus derivados também são amplamente explorados
isoladamente, principalmente quanto às suas propriedades como antibacterianas, antioxidantes,
antifúngicas, antitumorais, entre outras. O objetivo deste estudo foi avaliar as atividades antiLeishmania, citotóxica e imunomoduladora do LCC, AA, CN e CD. Para tanto, foram
realizados protocolos de atividade anti-Leishmania sobre formas promastigotas de L. infantum,
L. braziliensis e L. major, citotoxicidade sobre macrófagos murinos, bem como avaliação de
macrófagos infectados com L. infantum. Ainda foram realizados ensaios de imunomodulação
como atividade lisossomal, capacidade fagocítica e avaliação da indução na produção de óxido
nítrico em macrófagos, bem como avaliação da toxicidade aguda sobre Tenebrio molitor. As
substâncias testadas demonstraram potencial anti-Leishmania, e os valores de concentração
inibitória média (CI50) do LCC, AA, CN e CD contra L. infantum foram: 148,12; 106,45; 56,74
e 154,32 µg/mL, contra L. braziliensis foram: 85,71; 50,83; 64,28 e 137,05 µg/mL, e contra L.
major foram: 153,56; >800; 122,31 e 112,50 µg/mL, respectivamente. Na ação sobre os
macrófagos, as concentrações médias de citotoxicidade (CC50) do LCC, AA, CN e CD foram
37,51;12,59; 31,44 e 40,53 μg/mL, respectivamente. Na avaliação do LCC e CN contra formas
amastigotas intracelulares, houve uma redução significativa no percentual de macrófagos
infectados e no índice de sobrevivência das formas amastigotas internalizadas, com índice de
seletividade (IS) significativo para ambas as substâncias, apresentando CI50 de 4,63 e 1,42
μg/ml, respectivamente. LCC, AA, CN e CD apresentaram atividade imunomoduladora,
atuando sobre parâmetros de ativação de macrófagos, demonstrado pelo aumento de sua
capacidade fagocítica e volume lisossomal, contudo não exibiram indução significativa da
síntese de NO. Quanto à toxicidade aguda, as taxas de sobrevivência das larvas de T. molitor
foram: 85%, 75% e 60% em contato com LCC e 85%, 60% e 40% em contato com CN, ambas
as substâncias nas doses de 3; 30 e 300 mg/Kg. Houve diferença significativa entre as curvas
de sobrevivência das larvas em contato com CN, demonstrando-se toxicidade aguda
significante para esta substância. Os resultados deste estudo são promissores e servem como
ponto de partida para a realização de pesquisas posteriores que visem a avaliação do potencial
leishmanicida in vivo.