As informações referentes ao sistema visual dos morcegos são limitadas, sobretudo, referente as espécies encontradas no Brasil. Assim, objetivou-se analisar e comparar a morfofisiologia da retina e sensibilidade espectral de três espécies de morcegos insetívoros Cynomops planirostris (Molossidae), Rhynchonycteris naso (Emballonuridae) e Myotis lavali (Vespertilionidae), provenientes da zona urbana de Recife – PE, através de parâmetros eletrofisiológicos e histomorfométricos. Os morcegos foram capturados no campus da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Dois Irmãos, Recife – PE. O exame eletrorretinográfico de campo total verificou a resposta fotópica da retina de forma multifrequencial nos seguintes comprimentos de ondas (405 nm, 470 nm, 527 nm, 591 nm, 626 nm e 940 nm) de (3 fêmeas da espécie R. naso, 1 macho da espécie C. planirostris e 3 fêmeas e 1 macho da espécie M. lavali). Além disso, foi realizada a análise histomorfométrica da retina de 05 indivíduos adultos da espécie R. naso, 06 morcegos adultos da espécie C. planirostris e 05 espécimes adultos da espécie M. lavali. Os morcegos foram submetidos ao processo de eutanásia. Os olhos foram enucleados, processados seguindo técnica histológica de rotina, cortados e as lâminas histológicas produzidas foram coradas por Hematoxilina – Eosina e analisadas em microscópio óptico. Portanto, foi mensurado a espessura total da retina (excluindo o epitélio pigmentar) e de cinco camadas retinianas: (FT) segmentos externos e internos dos fotorreceptores; (NE) camada nuclear externa; (NI) camada nuclear interna; (PI) camada plexiforme interna e (FN) camada de fibras nervosas. As mensurações histomorfométricas de cada parâmetro foram realizadas em oito áreas distintas da retina de cada animal. Portanto, quatro áreas de análise foram estabelecidas na região dorsal da retina: (0,2 mm); (0,4 mm); (0,6 mm) e (0,8 mm) depois do nervo óptico e quatro áreas na região ventral da retina: (0,2 mm); (0,4 mm); (0,6 mm) e (0,8 mm) depois do nervo óptico. Os resultados foram comparados entre as regiões ventral e dorsal da retina, entre as áreas central e periférica, e além disso os resultados de cada análise foram comparados entre as três espécies. Nos registros realizados nos exames fotópicos foi possível identificar a presença e o comportamento das ondas “a” e “b” para as três espécies morcegos. Os testes de ERG-ct multifrequencial mostraram que as três espécies de morcegos insetívoras apresentam respostas a todos os estímulos
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analisados em diferentes comprimentos de onda desde o ultravioleta (405 nm) ao vermelho (626 nm). Além disso, a espécie R. naso foi a única que apresentou resposta ao comprimento de onda infravermelho (940 nm). As 10 camadas da retina de organização celular foram identificadas nas três espécies de morcegos. Na primeira análise histomorfométrica, verificou-se que maiores médias dos parâmetros analisados foram encontrados na região ventral da retina das espécies C. planirostris e R. naso, enquanto a espécie M. lavali não apresentou diferenças significativas entre essas duas regiões da retina. As mensurações da área central apresentaram-se significativamente maiores em comparação com periférica da retina para as três espécies na maioria dos parâmetros. Quando comparado entre as três espécies, a espécie C. planirostris exibiu as maiores médias em comparação com as outras duas espécies, com exceção da camada de fibras nervosas que mostrou-se mais espessa na espécie R. naso e a camada nuclear externa, no qual foi verificado as maiores médias para a espécie M. lavali. Assim, esse trabalho amplia o conhecimento a respeito do processo evolutivo dos pigmentos visuais encontrados em morcegos, no qual sugerimos a presença e devido funcionamento das duas opsinas (S-) e (L-) em C. planirostris, R. naso e M. lavali, além de confirmar a percepção espectral do comprimento UV pelas três espécies insetívoras estudadas. Adicionalmente, a percepção do espectro infravermelho pela espécie R. naso abre uma nova discussão sobre a sensibilidade visual em morcegos, no qual futuras investigações devem ser realizadas para aprimorar os conhecimentos em relação a importância da manutenção dessa característica nessa espécie. Além disso, apesar da espécie C. planirostris mostrar as maiores médias dos parâmetros mensurados, estes valores estão diretamente relacionados apenas ao tamanho do bulbo ocular e consequentemente ao aporte corpóreo dos animais. Por outro lado, os dados hismorfométricos da retina sugerem que a espécie R. naso possua uma maior capacidade visual em comparação com as outras duas.