Esta pesquisa objetivou contribuir cientificamente com a interdisciplinaridade nas Ciências
Sociais Aplicadas, sobretudo entre os Estudos Culturais e o Urbanismo, colocando ênfase no papel da
cultura como agente de transformação urbana. Na literatura e na percepção, a dimensão cultural
é permeada pela ambiguidade. Se, de um lado, promove a inclusão, transformando o espaço no lócus
da pluralidade e da apropriação democrática, por outro, promove a exclusão, transformando
a ocupação do solo no espaço da segregação. Para comprovar essa hipótese, os eventos artístico-
culturais no espaço livre público (eventos de rua) foram escolhidos como fenômeno cultural inclusivo,
sobretudo no âmbito da apropriação do espaço público. A economia criativa, via tendências estético-
sensoriais pós-modernas, foi identificada como fenômeno cultural exclusivo, posto que alavanca
o consumo especializado, acelera a especulação imobiliária e coopera com a gentrificação. A Região
Central de São Paulo constituiu-se como área de estudo a partir da qual as dimensões sociais, culturais
e urbanas foram correlacionadas. O distrito da Santa Cecília foi escolhido como territorialidade
específica para a coleta de dados sobre a economia criativa. Para o problema teórico-conceitual,
aquele que estipula a ambiguidade da cultura, foram consultados documentos bibliográficos
e estudos pré-existentes. Depois, pelo caráter interdisciplinar do trabalho, optou-se por um conjunto
diverso de instrumentos que ajudassem na comprovação empírica, atendendo às necessidades da
obtenção de informação por fontes multifacetadas e adaptáveis ao caso concreto (observação participante, registros iconográficos, mapeamentos, entrevistas e questionários). A análise e
interpretação dos dados primários, conjuntamente ao estudo das variáveis de fontes secundárias,
apontaram para a confirmação relativa da hipótese: a cultura, pelo prisma dos eventos de rua, é um
importante agente de transformação urbana em processos de inclusão socioespacial, embora
apresente latência de ambiguidade; por outro lado, sendo um importante intermediário de
tendências estético-sensoriais pós-modernas, responsáveis pela construção de paradigmas e modos
de vida, a economia criativa transforma o uso e a ocupação do solo, mas não se confirmou como
vetor de exclusão socioespacial do caso em tela. O papel excludente da economia criativa é, portanto,
apenas uma possibilidade, dentro de tantas outras rugosidades, não sendo de forma alguma uma
determinação.