Nas últimas décadas, a anemia carencial, em especial a ferropriva, passou a ser reconhecida como a carência nutricional de maior prevalência no mundo, sendo determinada, em 50 % dos casos, pela ingestão deficiente de alimentos ricos em ferro ou pela deficiente utilização orgânica do mineral. Suplementos alimentares utilizados para suprir alguns tipos de carência alimentar nem sempre são eficazes e podem contribuir negativamente no tratamento de algumas doenças e alimentos fortificados ainda necessitam ter mensurado e comprovado o seu real impacto na ingestão de nutrientes. A alimentação ainda é a melhor forma de suprir preventivamente as deficiências nutricionais do organismo. A biofortificação de produtos agrícolas pode ser uma solução para os problemas de ordem nutricional, podendo contribuir com produtos mais benéficos. A farinha de folha de mandioca é um ingrediente de alto valor nutricional e de baixo custo que pode ser utilizado na alimentação de aves de corte ou poedeiras, entre outros animais. O projeto objetivou o estudo da biofortificação em ferro das folhas de mandioca para obtenção de farinha de folha de mandioca com maior teor deste elemento, para uso na suplementação de ração de codornas poedeiras, visando à obtenção de produtos de codornas com maior teor de ferro heme, o qual apresenta maior biodisponibilidade ao corpo humano. No processo proposto no projeto, foram empregadas duas variedades de folhas de mandioca, que receberam tratamento e que não receberam o tratamento com o NaFeEDTA. O processo realizado com o quelato NaFeEDTA nas folhas demonstrou ser eficaz para a diminuição de fatores antinutricionais como os glicosídeos cianogênicos (90 a 95 %), ácido fítico (10 a 11 %), fenóis totais (55 a 71 %) e taninos (diminuição em até 5 vezes) nas farinhas de folhas de mandioca das variedades de mandioca testadas, proporcionando também aumento dos teores de aminoácidos indispensáveis, aumento no teor proteico (29 a 33 %), aumento de até 50 % na digestibilidade proteica, aumento na bioacessibilidade de ferro de aproximadamente 2 % para 22 %, aumento na bioacessibilidade de zinco (entre 2 a 3 vezes) e aumento na bioacessibilidade de molibdênio (entre 4 a 6 vezes). Quando manejada para suplementar a ração de codornas, a partir da dieta basal, foram feitas as dietas experimentais sendo: uma dieta suplementada com ferro inorgânico (sulfato ferroso - FeSO₄.7H₂O), e as demais dietas com inclusão de farinha de folha de mandioca desidratada de duas variedades com três níveis de NaFeEDTA cada (50, 100 e 150 mg kg¯¹), ou somente com a inclusão NaFeEDTA adicionado nos mesmos três níveis (50, 100 e 150 mg kg¯¹). Na avaliação das características de desempenho e na avaliação da qualidade dos ovos os resultados indicaram que a suplementação de ferro acima das exigências mínimas recomendadas não influenciou negativamente o desempenho, a mortalidade e a qualidade interna ou externa dos ovos. A suplementação extra de ferro no nível de 150 mg kg¯¹ obtida com a farinha de folha de mandioca variedade 2 (FFMV2) tratada, proporcionou um incremento de cerca de 5 % da deposição de ferro em ovos de codornas e da coloração da gema em relação a ração controle. Tanto a farinha de folha de mandioca da variedade V1 (FFMV1) quanto da FFMV2 ao nível de 150 mg kg¯¹ da suplementação extra de ferro determinou incremento significativo na deposição de ferro nos músculos (coxa e sobrecoxa, peito) e órgãos comestíveis (coração e fígado), sendo a FFMV2 a que apresentou melhores resultados, proporcionando acréscimos de 3 vezes mais ferro na coxa e sobrecoxa, 60 % mais ferro no fígado, 8 % mais ferro no coração e 6 % mais ferro no peito de codornas, quando comparado as aves que receberam a ração controle. Conclui-se que o processo empregado foi capaz de proporcionar maiores teores de ferro em músculos e orgãos comestíveis de codornas.