A população de bovinos pantaneiros foi originada por meio do cruzamento de
raças autóctones espanholas e portuguesas, trazidas durante a colonização da
planície pantaneira, na América do Sul. A seleção natural desses animais
ocorreu em ambiente de alta temperatura, alagamentos intermitentes e
pastagens com valor nutritivo variável ao longo do ano. Essa adaptação ao
Pantanal também foi essencial para tornar os animais resistentes a parasitas e
aptos a se protegerem de predadores. Até o início do século XX, o rebanho
pantaneiro prosperou com milhões de cabeças pastoreando livremente na
planície. Todavia, com a introdução de raças modernas, especialmente
zebuínas, o gado pantaneiro foi lentamente sendo substituído, restando,
atualmente, apenas algumas centenas de animais. Devido ao risco de extinção,
é necessário recorrer às ferramentas que possibilitam a conservação dessa
raça, sendo, uma delas, o estudo do comportamento animal. A etologia animal
possui ramificações que são interligadas entre o animal e o ambiente externo.
Nesse caso, este trabalho buscou avaliar o comportamento materno a fim de
identificar os cuidados que a mãe tem com sua cria e, com isso, garantir o
sucesso no desempenho e sobrevivência do bezerro. Também buscou verificar
se existe, no gado pantaneiro, comportamento alo parental ou alo
amamentação, ou seja, quando outros indivíduos participam dos cuidados da
mãe ou substituem-nos para com sua cria. Sabe-se que a sobrevivência do
bezerro ainda pode ser avaliada por meio do seu comportamento ingestivo,
devido à fase de transição do neonato até o desenvolvimento dos
compartimentos do estômago, de forma a torná-lo um ruminante funcional.
Para as vacas, as alterações metabólicas no pós-parto e produção de leite
refletem no comportamento ingestivo. Nesse contexto, esta pesquisa inédita
objetivou efetuar avaliações etológicas de modo a servir como uma ferramenta
para auxiliar na conservação da raça pantaneira e aprimorar os conhecimentos
sobre o comportamento materno entre as vacas com suas crias, bem como da
alo-amamentação e as respectivas condutas ingestivas de vacas e bezerros
durante o período de aleitamento.