As inflamações da mucosa gástrica, mais conhecidas como gastrites, são enfermidades
que comumente podem acometer equinos, em especial os potros no período de desmame.
Por representar a fase mais importante da criação de cavalos, o cuidado e manejo com
equinos jovens exige maior controle. Buscando diminuir índices de gastrite e,
consequentemente, prejuízo no desenvolvimento de potros, o uso de suplementos
alimentares adicionado a dietas balanceadas apresenta resultados favoráveis. O objetivo
deste estudo foi avaliar a ocorrência de gastrite em potros submetidos a duas técnicas de
desmame, o impacto no desenvolvimento e o efeito do uso de suplemento alimentar
preventivo. O experimento foi conduzido no Laboratório de Pesquisa em Saúde Digestiva
e Desempenho de Equinos (LabEqui), pertencente à FMVZ/USP. Foram utilizados 16
potros mestiços, machos e fêmeas, com idade aproximada de 5 meses e peso corpóreo
entre 230 e 260 kg. Durante o período lactacional, potros e éguas foram alojados em
piquete coletivo, sem acesso a gramínea. As éguas receberam o equivalente a 2,5% do
peso em matéria seca, sendo 1,0% de concentrado e 1,5% de volumoso, caracterizando
uma proporção volumoso/concentrado de 60:40, seguindo recomendações do NRC 2007
para atender as exigências nutricionais da categoria. Todos os potros, durante o período
lactacional, receberam concentrado, 0,25% do peso em matéria seca e, após o desmame,
1,25% do peso em matéria seca, de acordo com as exigências nutricionais da categoria.
Feno, água e sal mineral foram fornecidos ad libitum. Após a separação maternal, um
grupo de potros foi alojado em baias de forma individual, e o restante permaneceu em
piquete coletivo. Após o período de 15 dias pós desmame, os potros do tratamento baia
foram transferidos ao piquete. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos
casualizados com esquema fatorial 2x2 (dois métodos de desmame e utilização ou não do
suplemento alimentar). Os tratamentos foram compostos por: 1) Desmame em piquete e
suplemento; 2) Desmame em piquete sem suplemento; 3) Desmame em baia e
suplemento; 4) Desmame em baia sem suplemento. O desmame dos potros foi realizado
de forma abrupta. Foi realizada avaliação do escore de lesão da mucosa gástrica dos
potros, com escore para número de lesões avaliada por uma escala de 0 a 4, e intensidade
de lesões gástricas avaliada por uma escala de 0 a 5, por meio de gastroscopia, sendo
avaliado uma única vez 15 dias antes do desmame e após 15 dias do desmame. Foi
mensurado o ciclo circadiano de cortisol plasmático, avaliando a variação do cortisol
matutino e vespertino, além de dosagem de gastrina plasmática, 15 dias antes do
desmame, no dia do desmame e 15 dias após o desmame, para ambas as variáveis. Foram
avaliados parâmetros zootécnicos para acompanhamento do desenvolvimento dos potros,
do nascimento até 3 meses pós desmame. Os resultados foram submetidos a análise de
variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de significância de 5%,
utilizando o PROC MIXED do Statistical Analysis System (SAS, 9.0). Foi observado
ocorrência de gastrite antes do desmame, com 81,25% dos potros apresentando
inflamação gástrica. Observou-se sinais clínicos de gastrite em 37,5% dos potros do
tratamento baia, durante o período de 15 dias pós desmame e durante o período de 3 meses
pós desmame. Para o número de lesões gástricas, antes do desmame, o escore médio
encontrando foi de 3.00 para piquete e 1.56 para baia, assim como, após o desmame, com
médias de 1.75 para piquete e 1.25 para baia. Além disso, observou-se diferença (P<0,05)
para intensidade de lesões, com médias de 3.31 para piquete e 1.37 para baia, antes do
desmane, e 1.93 para piquete e 1.00 para baia, após o desmame. Entretanto, foi observado
maior diminuição da incidência de lesões dos potros desmamados em piquete em relação
aos desmamados em baia, tanto para o número de lesões quanto para a intensidade de
lesões gástricas, com 41,6% e 42,5% de diminuição, respectivamente. Comparados a
19,9% para número de lesões e 27,2% para intensidade de lesões gástricas,
correspondente aos potros desmamados em baia. Demonstrando a influência do manejo
de desmame na intensidade de lesões. Não foi observado diferença (P>0,05) para
dosagem de cortisol e gastrina no sangue, parâmetros zootécnicos e utilização do
suplemento. Conclui-se que ocorrências de gastrite podem ser observadas antes do
desmame, sendo que a incidência foi influenciada pelo manejo. Não houve impacto no
desenvolvimento dos potros, e a utilização de suplemento alimentar como prevenção às
inflamações de mucosa gástrica não apresentou efeitos.