A leptospirose é uma doença infectocontagiosa de caráter zoonótico, com distribuição mundial, causada por bactérias do gênero Leptospira, que acomete animais domésticos, silvestres e humanos. Em suínos, a leptospirose é caracterizada, principalmente, por transtornos reprodutivos, tais como abortamentos, natimortos, fetos mumificados e nascimento de leitões fracos. No Brasil os principais sorogrupos relatados em suínos são Pomona, Icterohaemorrhagiae, Tarassovi, Canicola e Grippotyphosa. Entretanto, apesar dos sintomas reprodutivos, existem poucos estudos descrevendo a identificação e caracterização de leptospiras associadas preferencialmente ao trato reprodutivo.
Em vista da escassez de informação epidemiológica e molecular desta enfermidade no sistema reprodutivo de suínos, se realizou uma análise sorológica e molecular da leptospirose associada a distúrbios reprodutivos em fêmeas abatidas no município de Brasiléia, Acre. Com intuito de identificar os anticorpos anti-Leptospira mais frequentes na população estudada, foi empregado o teste de soroaglutinação microscópica (MAT) com um painel de 24 sorotipos. Das 150 amostras de soro testadas 4,7% foram soropositivas a pelo menos um antígeno. Os sorogrupos Autumnalis e Sejroe foram os sorogrupos com maior percentual de soropositividade, 43% das amostras ao sorogrupo Autumnalis e 43% ao sorogrupo Sejroe. Adicionalmente foram colhidas amostras de muco cérvico vaginal e a PCR foi realizada tendo como alvo incialmente o gene lipL32. Amostras positivas para este alvo foram então submetidas a uma nested-PCR tendo como alvo o gene secY, com posterior sequenciamento genético. Entre as 150 amostras analisadas, 40 (26,6%) apresentaram resultado positivo para PCR lipL32. Destas, foi possível amplificar e sequenciar 11 amplicons secY, todos identificados como L. interrogans, filogeneticamente relacionados com estirpes do sorogrupo Icterohaemorrhagiae. Os resultados do presente estudo destacam a importância de suínos fêmeas portadoras vaginais de leptospiras na síndrome reprodutiva, indicando a possibilidade de transmissão venérea, destacando a importância de estudos na esfera da leptospirose genital.