A leishmaniose visceral (LV) é considerada uma doença tropical negligenciada de importância para a saúde pública e animal com ampla distribuição global. Belo Horizonte, capital do estado de Minas Gerais (MG), é o quarto município com o maior número de casos confirmados de LV no Brasil. Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi descrever os indicadores de saúde [coeficiente de incidência (CI), taxa de letalidade (TL) e anos potenciais de vida perdidos (APVP)] e investigar os fatores sociodemográficos associados aos casos e óbitos por LV e coinfecção LV-HIV em Belo Horizonte, de 2006 a 2018. Além disso, avaliar a relação temporal entre os casos de leishmaniose visceral humana (LVH) e canina (LVC) e a distribuição espacial dos casos de LV ao longo do tempo. No período de estudo, um total de 1.115 casos novos de LVH foram confirmados, correspondendo a um CI mediano de 2,6 casos/100.000 habitantes. Em relação aos casos de coinfecção LV-HIV foram confirmados 119 casos novos. O CI mediano para esse grupo foi de 0,3 casos/100.000 habitantes. Foram verificados 148 óbitos nos indivíduos com LV e 25 naqueles com coinfecção LV-HIV. As TL medianas para os casos de LV e coinfecção LV-HIV foram semelhantes (14,6% e 14,3%, respectivamente). Ao longo do período de estudo foram verificados um total de 2.843,5 APVP, que representou em média 19,2 anos perdidos para cada óbito por LV. As variáveis sexo, faixa etária e raça/etnia foram preditores significativos para a LV e coinfecção LV-HIV ao longo do período. O estudo confirmou a endemicidade e a diminuição dos casos de LV em Belo Horizonte. Em relação às análises de séries temporais, o CI_LVH e PCS (proporção de cães sororreagentes) apresentaram tendência decrescente ao longo do primeiro período de estudo (janeiro/2006 a agosto/2013). De acordo com o modelo ARIMAX ajustado para esse período, observou-se relação temporal entre o CI_LVH e PCS, com o CI_LVH sendo influenciado pelo CI_LVH dos últimos dois e cinco meses e pela PCS do terceiro mês anterior. Para o segundo período de estudo (setembro/2013 a dezembro/2018) não foi possível o ajuste de um modelo ARIMAX. As análises espaciais mostraram que os casos de LVH estavam concentrados, principalmente nas Regionais Administrativas (RA) Noroeste (15,1%), Nordeste (14,6%) e Venda Nova (12,2%). Por outro lado, os menores números de casos foram verificados nas RA Centro-Sul (6,7%) e Oeste (8,1%). Os mapas de densidade de Kernel indicaram concentração de casos de LVH em diferentes locais ao longo do período de estudo. Um total de 1.258.389 testes diagnósticos para LVC realizados foram caracterizados, desses testes 103.358 foram positivos (8,2%). Autocorrelação espacial positiva e dependência espacial foram verificadas entre as PCS. Por fim, estudos como esse são fontes importantes de informação e podem levar a uma melhor tomada de decisão em Saúde Pública, além de aprimorar a efetividade de medidas de vigilância e controle da LV.