A vacinação é considerada uma das medidas com melhor custo-benefício e mais efetivas dos serviços de saúde. Por outro lado, alguns grupos populacionais que vivem em isolamento geográfico e cultural, vêm apresentando baixas taxas de vacinação. No Brasil, não existem dados avaliando a adesão às vacinas preconizadas pelo Programa Nacional de Imunizações do Sistema Único de Saúde (SUS), considerando crianças de comunidades rurais e tradicionais. Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar as coberturas vacinais, segundo o calendário nacional de vacinação da criança para o primeiro ano de vida, suas distribuições no espaço e tendências no tempo, para crianças assentadas, quilombolas e ribeirinhas do estado de Goiás, nascidas entre 2010 e 2017. Trata-se de um estudo epidemiológico, coorte retrospectiva, realizado em 40 municípios de Goiás, seguido de um estudo ecológico. A amostra foi formada por 616 crianças nascidas entre 2010 e 2017, residentes em alguma comunidade assentada, quilombola ou ribeirinha de Goiás. Para o cálculo das coberturas vacinais, foi considerado o percentual de crianças com esquema vacinal completo ou por vacina, avaliado aos 12 e 18 meses de idade, com intervalo de 95% de confiança. Na série temporal, a análise de tendência foi estimada para as comunidades segundo as mesorregiões de Goiás e para tal foi utilizada a regressão linear de Prais-Winsten, com variância robusta. As tendências foram classificadas como crescentes, decrescentes ou estacionárias, de acordo com o valor de p e coeficiente de regressão. A distribuição espacial das coberturas vacinais, segundo as mesorregiões de Goiás, foi realizada ao longo das séries temporais. No total, 616 crianças tiveram os dados vacinais avaliados, a maioria era do sexo masculino (53,7%) e pertencente à comunidade quilombola (54,7%). A cobertura vacinal completa para as vacinas recomendadas durante o primeiro ano de vida aos 12 meses e aos 18 meses foi de 52,4% (IC95%: 48,5% - 56,3%) e 57,8% (IC95%: 53,9% - 61,6%), respectivamente. Para crianças nascidas em 2017, somente as vacinas contra febre amarela e contra sarampo/caxumba/rubéola apresentaram cobertura vacinal > 90%. Segundo a coorte de nascimento de 2010 a 2017, em Goiás, das dez vacinas avaliadas, seis apresentaram tendência crescente nas coberturas vacinais (poliomielite, pneumocócica 10 valente, rotavírus humano, meningocócica C, febre amarela e sarampo/caxumba/rubéola). Considerando a distribuição espacial e temporal, segundo as mesorregiões de localização das comunidades, tendência decrescente para cobertura vacinal somente foi observada na mesorregião Centro Goiano e para a vacina contra hepatite B. Na mesorregião Norte Goiano observou-se tendências temporais crescentes para a maioria das coberturas vacinais, com exceção para as vacinas BCG e sarampo/caxumba/rubéola. Apesar disso, a mesorregião Norte Goiano foi a única em que nenhuma vacina alcançou a cobertura de 90%, no período da coorte de nascimento 2016/2017. Os resultados apresentam um cenário desigual no acesso aos serviços de vacinação para populações específicas rurais e tradicionais brasileiras e apontam para a necessidade de estratégias urgentes que alcancem e garantam a equidade em saúde para um grupo com tradições e características distintas da população urbana do Brasil.