As neoplasias melanocíticas originam-se da proliferação de melanoblastos e melanócitos e são
nomeadas melanomas, quando malignas e melanocitomas, quando benignas. Os melanomas
correspondem a 7% das neoplasias malignas em cães, o que torna essencial estudo acerca
destes tumores. Uma vez que expressam comportamento agressivo e histologia variável,
exames complementares são necessários para o estabelecimento do diagnóstico e prognóstico.
A atividade mitótica pode ser um importante critério de valor prognóstico para os melanomas,
pois estima a taxa de proliferação celular. Desta forma, os objetivos deste trabalho foram
realizar um estudo dos tumores melanocíticos diagnosticados em cães no Setor de Anatomia
Patológica (SAP) entre janeiro de 1999 a agosto de 2020, avaliar a fração de crescimento
dessas neoplasias determinado pelo Ki-67 (MIB-1) e correlacioná-lo com a localização e
critérios histológicos associados à gravidade. Além disso, objetivou-se estabelecer um método
de contagem único e amplo para todos os tipos da neoplasia e suas localizações mais comuns.
Foram avaliados os históricos, laudos de necropsias e biópsias e reavaliadas as lâminas
coradas com hematoxilina e eosina (HE). Todos os dados, incluindo os epidemiológicos,
foram compilados. Os melanomas amelanóticos foram submetidos ao exame imunohistoquímico com anticorpo Melan-A. Em seguida, realizou-se imuno-histoquímica com Ki-
67 e as lâminas foram contracoradas com Giemsa. Calculou-se a fração de crescimento do Ki-
67 ao contar as células em 10 campos aleatórios de cada lâmina em objetivas de 40x. Do total
de 78 casos de neoplasias melanocíticas do SAP, 32 localizavam-se em cavidade oral, 29 em
pele, nove em leito ungueal e as demais em locais variados, totalizando 41 fêmeas e 37
machos. Os cães SRD (29) foram os mais acometidos. A idade foi informada em 70 fichas e
variou de três a 19 anos. Em 48 casos foi possível analisar as características histopatológicas.
Com relação ao aspecto morfológico, os tumores foram classificados em fusiforme (um caso),
epitelióide (11 casos) ou misto (35 casos). O pleomorfismo foi acentuado em 36,9% das
neoplasias e a média das mitoses, de todos os campos, foi de 10,5. Em 36/78 casos (33
melanomas e três melanocitomas) foi realizada a técnica imuno-histoquímica para Ki-67.
Destes, 12 apresentaram resultado positivo: três melanomas amelanóticos, oito melanomas
melanóticos e um melanocitoma. Após análise estatística, verificou-se que o resultado
corroborou com a literatura, visto que a variante maligna apresentou maior fração de
crescimento celular, maior índice mitótico que a variante benigna, além das demais alterações
histológicas observadas. Sabe-se que, quando o valor da fração de crescimento do tumor
encontra-se ≥ 15%, indica prognóstico desfavorável e está relacionado com índice mitótico ≥3
em 10 campos na objetiva de 40x. Em quatro casos de melanomas, a fração de crescimento
corresponderam a 15,28%, 15,87%, 19,13%, e 51,3% e os índices mitóticos resultaram 5, 30,
60 e 70. Conclui-se que neoplasias melanocíticas são distribuídas igualmente em ambos os
gêneros, acometem predominantemente cães a partir de três anos de idade e o local mais
frequente da lesão é a cavidade oral, seguido por pele e leito ungueal. No que diz respeito às
neoplasias melanocíticas diagnosticadas nos últimos 22 anos no Setor de Anatomia Patológica
da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, pôde-se observar que os aspectos
epidemiológicos relacionados ao sexo, idade, raça e localização corroboram com aqueles
descritos na literatura, assim como os sítios de metástase. O melanoma melanótico foiiii
observado com mais frequência, semelhante ao relatada na literatura mundial. A morfologia
celular mais observada no presente estudo foi do tipo misto, diferentemente da maioria dos
relatos, onde a mais frequente é a forma epitelióide. A fração de crescimento determinada
pela contagem de mitoses e imunorreatividade ao Ki-67 variou significativamente entre
tumores melanocíticos localizados na cavidade oral e pele. Na variante benigna, o índice
proliferativo foi menor quando comparado com as neoplasias malignas e o método de
contagem utilizado neste trabalho mostrou-se efetivo para todos os tipos de neoplasias
melanocíticas estudadas independente da localização.