Na Região Nordeste os ruminantes são criados de formas diversificadas, podendo-se observer desde sistemas intensivos de criação até ultra extensivos, sem qualquer tecnificação e altamente dependentes da caatinga como fonte de alimentação, inclusive cactáceas. Em áreas da caatinga, que sofreram processo de degradação, ocorre a predominância de determinadas espécies de plantas, inclusive algumas que têm efeitos deletérios aos animais. Atualmente, no Nordeste brasileiro, vem sendo observado que algumas áreas estão sendo invadidas por cactáceas, e começam a ser identificados problemas associados a essas espécies. Apresenta-se nessa dissertação dois surtos de lesões traumáticas associadas ao pastejo e ingestão da Tacinga inamoena por caprinos e ovinos no estado da Paraíba, Brasil. No primeiro surto observou-se durante uma inspeção preliminar do rebanho que 15 animais apresentavam alterações oculares, os animais acometidos foram submetidos ao exame físico geral e ao exame oftálmico. Lacrimejamento excessivo, blefarite, fotofobia, opacidade de córnea, hifema, neovascularização corneana, úlceras de córnea e gloquídeos aderidos à conjunctiva bulbar e na córnea. A planta estava presente em diversas áreas e em grande quantidade nas áreas de pastejo, onde os animais eram vistos ingerindo seus frutos. No segundo surto, dois ovinos de um total de 100 animais, foram identificados com lesões orais associadas ao pastejo em áreas da planta. Um deles foi encaminhado ao Hospital Veterinário (CCA-UFPB). No exame físico, o animal apresentou apatia, anorexia, escore corporal 1,5, pelos opacos, eriçados e no pelame era possível identificar gloquídeos. Na cavidade oral observou-se halitose, sialorreia, extensas úlceras hemorrágicas e sensibilidade dolorosa à palpação. Devido ao prognóstico desfavorável, este paciente foi eutanasiado. Na necropsia, placas multifocais a coalescentes, elevadas, firmes e com superfície irregular, ulcerada , por vezes crostosas, com centro amarelo a marrom-claro e bordos eritematosos, estavam presentes nos lábios superiores, inferiores, mucosa oral, língua, palatos duro e mole. Apesar de ser evidente que seria necessário a remoção dos animais das áreas em que a planta se fazia presente, essa mudança no manejo não foi possível, tendo em vista a inexistência de outros locais para pastejo e a importância que essa cactácea possui nos períodos de escassez de forragens. A planta é responsável por causar sérias lesões em pequenos ruminantes no semiárido assim como prejuízos econômicos de grandes dimensões, esse problema pode ainda atingir amplas proporções, visto que a planta pode possuir comportamento invasor, especialmente em áreas em que podem ser identificados indícios de degradação ambiental.