Produzir alimentos suficientes para nutrir adequadamente a população mundial sem
inviabilizar o ecossistema planetário é um grande desafio. Na produção pecuária,
muitos esforços são verificados nas diversas áreas de ciência e tecnologia envolvidas,
como genética, nutrição, ambiência e manejo, mas um aspecto que raramente é
abordado é a ineficiência do processo de produção de alimentos de origem animal a
partir de nutrientes vegetais. A gestão do desequilíbrio causado pela superpopulação
humana no planeta e sua necessidade de alimento passa fundamentalmente por
tornar o mais transparente possível a dinâmica das variáveis envolvidas no processo
de produção de nutrientes de origem animal, a fim de otimizar os processos de
obtenção dos elementos necessários à vida e de redução dos metabólitos prejudiciais
ao planeta. Nesse contexto, o objetivo deste trabalho é de fazer um diagnóstico da
perda de nutrientes que ocorre na produção de alimentos de origem animal - neste
caso, especificamente, ovos. Utilizando bancos de dados internacionais, como os
parâmetros de desempenho previstos no Guia de Manejo da linhagem de galinhas
poedeiras Hy-Line W 36 e as tabelas de composição de nutrientes da American Egg
Board (2020), que reproduz valores obtidos junto ao USDA, e, também, os dados das
Tabelas de Composição de Alimentos e Exigências Nutricionais para Aves e Suínos
de Rostagno, mais condizentes com as condições brasileiras, foram obtidas curvas
comparativas dos principais nutrientes consumidos pelas aves na ração e
disponibilizados para consumo humano nos ovos produzidos, ao longo do ciclo de
vida das galinhas poedeiras. Esses dados foram ajustados pelo modelo
Compartimental ou pelo modelo de Duccatti, dependendo da característica das
curvas, utilizando o Programa Prático de Modelagem da FMVA/UNESP. A massa de
ovos produzida por cada galinha corresponde a 46,5% da massa de ração que a ave
consome ao longo do ciclo produtivo, o que condiz a uma conversão alimentar (CA)
de 2,15, considerando toda a vida produtiva da ave. Apenas a ração consumida na
fase de produção, a partir da 18ª semana de vida, a CA alcança 1,92 na 58ª semanae, a partir da 75ª semana, aumenta, chegando a 1,98 ao final do ciclo produtivo, na
100ª semana. A proteína contida nessa massa de ovos corresponde a 32,1% da
proteína total consumida pelas aves durante a vida produtiva. Os aminoácidos
essenciais disponibilizados nos ovos correspondem a 49,5% do total de aminoácidos
essenciais digestíveis consumidos pelas aves ao longo da vida (da 1ª à 100ª semana).
A energia metabolizável ofertada nos ovos corresponde a 21,4% da energia
metabolizável contida no total de ração consumida pelas aves. Atentando apenas a
energia consumida pelas aves na fase produtiva, a conversão energética (calorias
necessárias para produzir um grama de ovo) chega a 5,65 na 72ª semana e começa
a aumentar a partir da 82ª semana, alcançando 5,76 ao final do ciclo de vida produtiva
da ave. Esses dados demonstram a necessidade de conscientização e mudança de
paradigmas dos diversos setores da cadeia produtiva de ovos. Os esforços de
pesquisa e desenvolvimento devem levar em conta essa realidade e realinhar suas
metas, buscando otimizar a eficiência dos processos de produção de nutrientes e
minimizar a produção de compostos indesejáveis, buscando retardar o processo de
desequilíbrio do ecossistema.