A restrição alimentar seguida de realimentação é uma estratégia
alimentar que permite a avaliação do ganho compensatório, que representa uma
resposta biológica aos intervalos de privação alimentar. Contudo, além do
desempenho zootécnico, existe a necessidade de se avaliar a saúde dos animais
e a interferência deste na fisiologia do peixe. Com este estudo o objetivo foi
avaliar o efeito de restrição alimentar seguida de realimentação em pacus
(Piaractus mesopotamicus), em duas fases experimentais, por meio da análise
de parâmetros de desempenho zootécnico, hematológicos, bioquímicos e
histomorfométricos de fígado. O experimento foi realizado em uma propriedade
rural (20º34’45 70”S 55º57’5140”W) em Anastácio, MS. Foram utilizados seis
tanques-rede com volume útil de 4 m3 cada, enfileirados em uma represa de 5
ha de lâmina d’água. Na primeira fase foram distribuídos aleatoriamente 960
peixes (368,44 ± 155,05 g) em tanques-rede. O delineamento foi inteiramente
casualizado e os peixes divididos em dois grupos, sendo alternados 15 dias de
restrição alimentar seguidos de 15 dias de realimentação (CR) em um e, em
outro, os peixes alimentados de forma contínua (SR), por um intervalo de 30
dias. Decorrido o período experimental, foram realizadas biometria, colheita
sanguínea e coleta de amostra do fígado. Os dados foram submetidos à análise
de variância ao nível de 5% de significância. A taxa de sobrevivência foi de
91,04±10,69% para o grupo CR e 93,54±2,82% para o grupo SR. O fator de
condição foi de 2,15±0,24 e 2,16±0,02, respectivamente para os peixes CR e
SR. O ganho de peso médio foi de 124,51±108,73 g e 153,04±118,18 g,
respectivamente para os peixes CR e SR, porém, assim como para os demais
parâmetros zootécnicos, não houve diferença significativa entre os dois grupos,
com exceção do consumo de ração. Não houve diferença significativa (p>0,05)
para os parâmetros hematológicos, bioquímicos e histomorfométricos. Pacus de
368,44 ± 155,05 g submetidos à restrição alimentar de 15 dias e realimentação
em 15 dias posteriores cresceram iguais e não apresentaram alterações na 24
histomorfometria hepática e fisiologia, comparados aos peixes sem restrição. Na
segunda fase foram estocados 600 pacus (780,40 ± 96,17 g) em tanques-rede.
Os peixes foram divididos em dois grupos, um que passou por restrição alimentar
de 15 dias seguidos de 15 dias de realimentação (CR) e outro em que os peixes
foram alimentados diariamente (SR), por um período de 60 dias. O delineamento
foi inteiramente casualizado. Ao término dessa fase experimental, foram
realizadas biometria e colheita sanguínea, seguindo a mesma metodologia da
anterior. Os dados foram submetidos à análise de variância ao nível de 5% de
significância. A taxa de sobrevivência foi de 94,33±0,58% para CR e
94,33±2,08% para SR. O fator de condição do tratamento CR foi de 1,83±0,19 e
o valor de SR foi de 1,79±0,26. Houve diferença significativa para o consumo de
ração (p<0,05), porém o mesmo não foi observado para os demais parâmetros
zootécnicos (p>0,05), bem como para os parâmetros hematológicos,
bioquímicos e histomorfométricos (p>0,05). Diante dos dados apresentados,
verifica-se que os peixes submetidos à restrição alimentar não apresentaram
diferenças significativas com relação aos parâmetros analisados, quando
comparados aos que receberam alimentação diariamente. Assim, os resultados
em ambas as fases sugerem um ganho compensatório total e que prováveis
efeitos provocados pela privação alimentar no fígado não ocorreram ou foram
revertidos.