O estudo da filosofia espanhola é tradicionalmente negligenciado pelas tradições
acadêmicas e historiográficas europeias. É, no entanto, longe de qualquer controvérsia,
uma tradição filosófica que existe e deu ricas contribuições à filosofia clássica europeia.
O pensamento filosófico desenvolvido no século XVI na Espanha, durante o
Renascimento, é particularmente rico e frutífero. Entre os vários tópicos abordados,
pretendo analisar uma questão que ocupa particularmente as mentes da época, a saber, a
filosofia da ação que trata com originalidade dois grandes autores do Renascimento
espanhol: o filósofo e humanista valenciano Juan Luis Vives (1492- 1540) e o teólogo e
jurista Francisco de Vitoria (1486-1546). Considerados como representantes do
humanismo cristão e da segunda escolástica, seu pensamento até agora foi abordado
neste contexto e de acordo com linhas de abordagem bem definidas e estreitas:
pedagogia e retórica para o primeiro, direito para o segundo. Minha abordagem
investigativa é analisar seus trabalhos a partir de uma perspectiva original (o
pensamento da ação humana) e, ao mesmo tempo, questionar o diálogo ou as
ressonâncias entre esses dois pensadores a priori, opostos pelas tradições acadêmicas.
No De Disciplinis (1531), depois no De anima et vita (1538), Vives cria uma
sistemática teoria da natureza humana a partir da tradição aristotélico-tomista. Nesse
contexto, Vives considera que a ação humana se baseia na investigação do
autoconhecimento no sentido socrático do termo. Esta é a razão, de um modo geral, que
faz do homem um ser livre no mundo, mas, e é aí que reside sua maior contribuição
para a antropologia filosófica da época, pois ele se esforça para integrar esse
pensamento do homem, a determinação das ações, das paixões da alma que
desempenham um papel central em sua psicologia e antropologia filosófica. Nesse
mesmo período histórico, e dentro da mesma tradição teológica e filosófica, Vitoria no
De Beatitudine e no De actibus humanis cria uma teoria da ação humana. Através de
seus comentários à Summa Theologiae de Tomás de Aquino, Vitoria pensa na ação
humana no contexto da descoberta do Novo Mundo e na vontade de respeitar e não
negligenciar a complexidade da natureza humana. Assim, esse pensamento consegue
renovar a antropologia do ponto de vista teológico, enriquecendo a contribuição da
tradição humanista na qual também se formou Vitoria. Tentarei determinar como esses
dois filósofos mostram um desejo comum de renovar o pensamento antropológico para
uma melhor consideração do corpo humano e da sua complexidade, a fim de garantir e
fundamentar melhor a ação humana. Esta é uma questão de extrema importância no
contexto do colapso da Igreja impulsionado pela reforma e no debate sobre a questão da
justificação do homem. Minha ambição é, portanto, reintegrar a filosofia ou teoria da
ação desenvolvida pelos filósofos espanhóis na tradição da história das ideias que
prepara a modernidade nos níveis moral, jurídico, psicológico e antropológico