A verdade existe? Existe um modelo político verdadeiro? Existem direitos e procedimentos
jurídicos verdadeiros? Existe o verdadeiramente digno de louvor ou de vitupério? Existe o
verdadeiramente belo? Desde a gaia da filosofia o encontro de um elemento-chave, vestibular
aos exemplos decorrentes, que são acidentais, é orientador do pensamento humano. Sabia-se
desde a filosofia antiga que a vida reísta é híbrida, misturada, e que algumas coisas se misturam
harmonicamente e outras não. Para depuração, uns optaram pelas ciências matemáticas e da
natureza, enquanto outros, pelas ciências humanas. Diante do argumento do divino, que seria
adotado por todo o medievo, as chamadas filosofias primeiras e seus expoentes saíram
pragmaticamente vitoriosos na história. O entendimento filosófico racionalista pressupôs, em
seguida, a simplificação e entendimento mecanista do homem, ignorando o conhecimento sobre
as vontades e sentimentos humanos. No século passado e neste, em cada novo dia o que parece
o auge da ciência não oferece respostas necessárias, ou mesmo suficientes para a vida gregária
entre comunidades homogêneas e heterogêneas. Principalmente nas heterogêneas, a barbárie se
evidencia em nível social, quando se mostra inclusive como meio intelectivo estatal. Diante
destas sucessões violentas, a retórica é alternativa agonística, via da linguagem. Parece chegada
a oportunidade de desmistificar a ignorância acerca das disputas entre a filosofia e a sofística
antiga, investigando-se tais disputas com suporte da história. Uma filosofia primeira abstrai-se
da história, da psicologia, da sociologia, do direito e da comunicação. O oposto parece ocorrer
no que se propõe como filosofias regressivas – alternativas híbridas para se pensar o humano na
contemporaneidade. Logo abaixo disso, se vê que os argumentos são fragmentos úteis soltos na
história. São retoricamente inventados, emulados, reinventados, organizados e reorganizados no
curso da história, em escolhas de humanos hermenêuticos dotados de vontade. Mais do que
haver dois polos lógicos bem definidos para todas as coisas humanas, há jogos particulares de
poder e vontade, oclusos retoricamente pelos argumentos do neutro, do apolítico, do ideal, do
divino, do natural e tudo aquilo que se diz conduzir à verdade única. Porém, se vê que em vez
do divino/natural e do mundano, do “ser” e do “não ser”, há acontecimentos em que há o ser,
ser, ser, sucessivamente, que não são necessariamente excludentes, mas que coabitam em
comunidade híbrida – são pluripartidários e necessitam de procedimento para agonística. A
retórica parece ser uma via suficiente para que se chegue ao acordo do híbrido. Além da
tolerância, implica compreender, e talvez integrar, o espaço ético alheio. Argumentar contra ou a
favor, além dos favoritismos dos lugares-próprios como referência. Se esta compreensão é
possível, a livre agonística argumentada é alternativa aos usos extrapolados da lei do terceiro
excluído e de exclusões polarizadas. Quando o si e os outros não são excludentes de fato, mas a
exclusão parece apenas a via mais simples, racional, pragmática a ser garantida a fortiori por
algum dogma ad terrorem, por promessas patrimoniais para os servos, por pagamento ou por
pura violência – por uso de poder e de poder puro para garantia de persuasão