Nesta dissertação, analisamos textos escritos por crianças em fase inicial do Ensino Fundamental (mais especificamente, no 2° ano), focalizando os argumentos por elas construídos e os efeitos de sentido que eles produzem nos textos. Essas crianças são alunos da Escola Municipal Professora Nila Rêgo, Pau dos FerrosRN, instituição que funciona como escola de aplicação da pesquisa O desafio de ensinar a leitura e a escrita no contexto do Ensino Fundamental de nove anos e da inserção do laptop na escola pública brasileira, na Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN). Partimos do pressuposto de que a argumentação é um fenômeno inerente à linguagem, sendo esta essencialmente argumentativa, de maneira que, inclusive crianças em fase inicial de aprendizagem conseguem mobilizar determinados argumentos para defesa de suas teses. Orientando-se, de maneira geral, pela perspectiva sociointeracionista de Bakhtin (2002; 2005), e de maneira mais específica pela Teoria da Argumentação no Discurso (TAD) ou Nova Retórica, de Perelman e Tyteca (1996), analisamos vinte textos produzidos pelos alunos acima citados, coletados no primeiro bimestre letivo (março-abril) de 2012. Na análise empreendida, percebemos que os alunos mobilizam vários tipos de argumentos na defesa por suas teses, dentre os quais se destaca, principalmente, o emprego de argumentos baseados na estrutura do real, por ligações de sucessão e de coexistência, e de argumentos que fundam a estrutura do real, pelo exemplo e pela ilustração. Quanto aos lugares argumentativos, os alunos extraem seus argumentos dos lugares da ordem, da essência, da pessoa e do existente, o que revela uma tendência dos alunos em mobilizarem argumentos relacionados à sua vivência. Esses argumentos são mobilizados pelos alunos com o intento de persuadirem os auditórios (particular, porque é constituído por seres determinados professora, bolsistas e colegas de classe) sobre a validade de suas teses, que correspondem a proposições unificadas do conteúdo dos textos, ou seja, frases ou orações resumitivas que conservam, em sua essência, a informação principal dos textos. De um modo geral, às teses analisadas, estão subjacentes efeitos de sentido relacionados à temática do desprezo e do abandono, uma vez que as duas propostas de produção textual enfatizam o abandono nas histórias contadas em sala de aula. Portanto, conforme pudemos observar, mesmo não tendo sido desenvolvido um trabalho sistemático com a argumentação em sala de aula, os alunos argumentam em prol de suas teses, porque a argumentação é inerente à própria linguagem.