Esta dissertação persegue caminhos narrativos para abordar uma temática que emerge nas discussões contemporâneas sobre Infância e Educação: a criança e seus espaços de vida coletiva na cidade. A partir do encontro com grupos de crianças de 8 a 10 anos que frequentam os anos iniciais do Ensino Fundamental, de três escolas do município de Santa Cruz do Sul/RS, geograficamente próximas, reflete como, para estas crianças, em sua condição de alteridade dos adultos, narram sua cidade através das experiências por elas vividas. Trata-se, ao se deter nas narrativas das crianças para ampliar o debate curricular nos anos iniciais do Ensino Fundamental ao problematizar a tendência dos adultos apresentarem e narrarem a cidade. O interesse científico é destacar como as crianças aprendem na cidade e não o que aprendem sobre a cidade. A criança, em seu devir humano plural, mimético e plástico, é nesse estudo compreendida como agente social na história, que parte da cultura e produz cultura, e por isso, um interlocutor cultural em co-existência com outras crianças e adultos. Para alcançar as infâncias, parte do pensamento de Walter Benjamin tecendo interlocuções entre as abordagens fenomenológicas de Gaston Bachelard, Michel Maffesoli, Jorge Larrosa, Joan-Carles Mèlich, e o Método Indiciário de Carlo Ginzburg. Da interlocução emerge uma fenomenologia do detalhe, enquanto estratégia metodológica para alcançar, na leitura das cartas e na escuta das crianças nas rodas de conversas, muitas cidades na cidade. A experiência, por não poder ser fixada nem pelo grau de veracidade nem por seu conteúdo, é algo que acontece, que está em ação: a ação de utopar, de vislumbrar, de projetar. Assim, o estudo captura achados e detalhes das experiências narradas das crianças para discutir o que a cidade perde sem as crianças ao apontar a cidade como espaço coletivo de educação.