A estreita relação entre o homem e o cão doméstico (Canis familiaris) pode trazer uma série
de implicações na saúde pública, uma vez que o animal pode ser responsável pela transmissão
de várias zoonoses. Em virtude disso, o presente trabalho teve como proposta determinar
indicadores epidemiológicos para leishmaniose visceral, leptospirose e brucelose na
população canina da microrregião do Brejo paraibano, Nordeste do Brasil. No período de
maio a outubro, foram amostrados 415 cães dos oito municípios da microrregião: Alagoa
Grande (n = 101), Areia (n = 79), Bananeiras (n = 72), Alagoa Nova (n = 73), Serrraria (n =
25), Pilões (n = 25), Borborema (n = 20) e Matinhas (n = 20). Os tutores dos cães amostrados
responderam a um questionário epidemiológico, sendo obtidas informações sobre os animais,
proprietário, residência e criação dos cães. O diagnóstico da leishmaniose visceral canina
(LVC) foi realizado com o imunoenzimático (kit ELISA S7®). Para leptospirose foi realizada
a prova de Soroaglutinação Microscópica (SAM), utilizando-se uma coleção de 23 sorovares
antígenos patogênicos e adotando como ponto de corte a diluição 1:50. Para a pesquisa de
anticorpos anti-B. canis foi realizado a Imunodifusão em gel de ágar (IDGA) como triagem e
IDGA+ME como confirmatório. Para a pesquisa de anticorpos anti-B. abortus foi realizada a
técnica de Antígeno Acidificado Tamponado (AAT). Das 409 amostras testadas para LVC,
120 foram sororreagentes, resultando em uma prevalência de 29%. Das 414 amostras testadas
para leptospirose, 52 cães foram sororreagentes, resultando em uma prevalência aparente de
12,6% e uma prevalência real de 12,2%. Os cães foram reativos para o sorogrupo
Icterohaemorrhagiae (76,9%), Autumnalis (13,55%), Pomona (3,8%), Grippotyphosa (3,8%)
e Serjoe (1,9%). Os títulos de anticorpos variaram de 50 a 800. Das 386 amostras examinadas
para soropositividade por B. canis, 99 amostras foram reagentes no IDGA, das quais 30 foram
positivas no IDGA+ME, constatando uma prevalência aparente de 7,8% e prevalência real de
12,6%. Das 366 amostras examinadas para soropositividade por B. abortus, 94 foram
reagentes no AAT, observando uma prevalência aparente de 25,7% e prevalência real de
22,8%. A análise de risco para a LVC indicou dois fatores associados com a soropositividade,
incluindo o analfabetismo do proprietário ou com ensino fundamental incompleto (RP = 1,57;
P = 0,027) e infestação de carrapatos (RP = 1,82; P = 0,001). Para leptospirose, foram
detectados seis fatores associados à soropositividade, incluindo o período chuvoso (RP =
1,94; P = 0,013), cães machos (RP = 2,10; P = 0,005), animais com idade maior que cinco
anos (RP = 4,21; P = 0,012), consumo de água não tratada (RP = 1,87; P = 0,043), cães com
livre acesso à rua (RP = 2,15; P = 0,011) e contato com animais silvestres (RP = 3,54; P =
0,050). Os fatores associados com a soropositividade para B. canis, foram a idade maior que
10 anos (RP = 6,38; P = 0,024) e cães criados presos no quintal (RP = 5,20; P = 0,035) e para
B. abortus, foi não trocar a água dos animais todos os dias (RP = 1,48; P = 0,033). Conclui-se
que a soroprevalência da leishmaniose visceral, leptospirose e brucelose na população canina
da microrregião Brejo Paraibano é alta e alertam para que haja o desenvolvimento de medidas
de controle e prevenção na espécie, tendo em vista, o risco de infecção para outras espécies
animais e humanos.