A leishmaniose visceral (LV) é uma doença tropical negligenciada, com 94% dos novos
casos distribuídos em países como Etiópia, Índia, Quênia, Somália, Sudão, Sudão do
Sul e Brasil. A infecção caninaé indicativa de risco para a infecção humana, e devido ao
estreito convívio de cães no ambiente domiciliar, estes animais se tornam importantes
reservatórios e fonte de infecção. Esta tese é composta por três capítulos. No capítulo I,
foi determinada a prevalência de leishmaniose visceral canina (LVC) no município de
Mãe D’Água e estudada a epidemiologia da zoonose por meio da análise dos fatores de
associação e a sua distribuição através de georreferenciamento. Para isso, amostras de
sangue de 150 cães provenientes das zonas urbana e rural do município foram coletadas.
A prevalência de anticorpos anti- Leishmania infantum foi de 18,6% (28/150), sendo
10,6% (8/75) na zona urbana e 26,6% (20/75) na zona rural. A Zona rural foi apontada
como fator de risco (Odds ratio = 2,93); a permanência do animal solto à noite (Odds
ratio = 0,33) e a realização de vermifugação (Odds ratio= 0.30) foram classificados
como fatores de proteção. A análise espacial demonstrou a formação de um cluster
primário de risco na zona urbana (p= 0,010) localizado na região norte do município.
No capítulo II, foi realizado levantamento entomológico e sazonal dos flebotomíneos
também no município de Mãe D’Água. Foram capturados 567 flebotomíneos, sendo
146 (25,7%) fêmeas e 421 (74,2%) machos, e Junho de 2019 foi o mês com maior
número de espécimes coletados (133/567- 23,4%). Foram identificadas as espécies
Lutzomyia lenti e Lutzomyia longipalpis, sendo esta espécie de maior ocorrência na área
rural (487/493- 98,7%). Foi detectada a presença de DNA de Leishmania infantum em 4
(15,3%) dos 26 pools analisados. O cálculo da taxa de Razão de Infecção Mínima
(MIR) revelou que 4% das fêmeas foram positivas. O capítulo III teve como objetivo
descrever a distribuição temporal e espacial dos casos de leishmaniose visceral humana
(LVH) no Estado de Alagoas, a fim de identificar as áreas de alto risco de transmissão
da doença no período de 2007 a 2018. O Estado é composto por 102 municípios, destes,
68,62% (n= 70) notificaram pelo menos um caso de LVH nos 12 anos do estudo. Foram
registrados 489 casos de leishmaniose visceral entre 2007 e 2018, com uma média de
40,7 casos por ano e incidência de 1,25/100 mil habitantes. Foi detectada dependência
espacial no segundo, terceiro e quarto triênios e semelhança entre os municípios, porém
com fraca correlação, com clusters de alta incidência no sertão. Ficou evidente que o
Estado de Alagoas apresentou uma acentuada expansão geográfica da LVH, sendo
necessário priorizar áreas e massificar as ações de vigilância e controle epidemiológico.