O objetivo deste estudo foi avaliar o efeito dos sistemas de produção semi-intensivo (viveiros escavados) e intensivo (tanques-rede) sobre os aspectos produtivos e econômicos do pirarucu, Arapaima gigas, na fase de recria. O estudo foi conduzido por 105 dias, considerando-se viveiros escavados (300 m2) e tanques-rede (4,0 m3) como tratamentos, aplicados a quatro repetições. Alevinos de pirarucu (28,03 ± 6,34 g e 11,75 ± 0,80 cm) foram estocados nas densidades de 0,4 peixes/m2 nos viveiros e de 40 peixes/m3 nos tanques-rede, que foram alimentados diariamente com ração comercial extrusada para peixes carnívoros, com teor de proteína bruta de 40 ou 45%, de acordo a faixa de peso dos animais. Quinzenalmente foram realizadas biometrias para obtenção do comprimento padrão e do peso de peixes (n=20) de cada unidade experimental. A temperatura, o pH, a transparência da água e a concentração de oxigênio dissolvido foram mensuradas três vezes por semana, enquanto a alcalinidade, a dureza e as concentrações de nitrito, amônia ionizada e não ionizada foram analisadas semanalmente. A disponibilidade de alimento natural foi amostrada a cada biometria, a partir da amostragem do fitoplâncton, do zooplâncton e dos insetos presentes na água. Adicionalmente, o conteúdo estomacal de peixes de cada unidade experimental (n=5) foi utilizado para análise quantitativa e qualitativa dos itens alimentares (insetos, vegetais, fitoplâncton, sedimento, copépodes, cladóceros e rotíferos) em cada uma das biometrias. Ao final do experimento foram calculadas a sobrevivência, a conversão alimentar aparente, os coeficientes de variação do comprimento padrão (CVCP) e do peso final (CVPf) e a taxa de crescimento específico, e aplicada uma análise econômica parcial, considerando os custos operacionais de cada tratamento.
A qualidade da água permaneceu dentro da faixa aceitável para a espécie ao longo do estudo. A sobrevivência foi mais elevada nos viveiros (97,5%) do que nos tanques-rede (73,9%).
O comprimento padrão e o peso final foram mais altos nos viveiros (43,03 ± 1,40 cm;
943,5 ± 9,01) do que nos tanques-rede (38,00 ± 0,75 g; 834,78 ± 21,06 cm), com coeficientes de variação (CVCP e CVPf) mais baixos nos peixes dos viveiros. A conversão alimentar foi menor nos peixes dos viveiros (0,96 ± 0,06) do que no dos tanques-rede (1,20 ± 0,11). Embora tenha sido utilizada ração artificial, A. gigas também ingeriu o alimento natural presente na água dos dois sistemas de produção. A abundância relativa do zooplâncton no estômago diminuiu com o aumento do peso dos peixes, diferentemente dos insetos, para os quais foi registrada maior abundância na classe final de peso 801-1.000 g, tanto nos viveiros (18,82%) quanto nos tanques-rede (3,59%). Esse padrão de aumento foi observado para a ração e para o sedimento, porém estes itens foram mais abundantes nos estômagos dos peixes dos tanques-rede em todas as classes de peso. Deste modo, juvenis de pirarucu com peso até 300 g apresentaram preferência alimentar distinta daqueles nas faixas de 300-600 g e de 600-1.000 g em ambos os sistemas de produção; além disso, o índice de seletividade alimentar dos itens naturais foi maior para cladóceros e insetos nos viveiros escavados, e para copépodes nos tanques-rede. Arapaima gigas de até 1.000 g consumiram alimento natural quando cultivados em tanques-rede e em viveiros, com maior contribuição do alimento natural neste último, mesmo na presença de alimento artificial. Os melhores índices de eficiência econômica e de custo médio foram registrados nos viveiros escavados. Neste sentido concluiu-se que o sistema de produção em viveiros escavados foi o melhor para o cultivo de A. gigas durante a fase de recria.