A artrite-encefalite caprina (CAE) e a maedi-visna (MV) acometem caprinos e ovinos,
respectivamente. Durante anos, os agentes etiológicos dessas enfermidades foram
considerados como específicos a cada espécie animal. Entretanto, análises filogenéticas
têm demonstrado a heterogeneidade desse vírus, reunindo diferentes genótipos e
subtipos em um grupo denominado de lentivírus de pequenos ruminantes (LVPR).
Sendo assim, o principal objetivo deste trabalho foi avaliar a transmissão interespecífica
do lentivírus de caprinos para ovinos, a partir de quatro grupos experimentais. O
primeiro (grupo colostro) foi formado por nove cordeiros que receberam colostro de
cabras positivas para LVPR. O segundo (grupo leite) foi estabelecido por nove
cordeiros que receberam leite dessas cabras. O terceiro foi um grupo controle,
constituído por dez cordeiros que mamaram colostro e leite de suas mães negativas. Já o
quarto grupo (grupo contato) foi formado por oito ovinos adultos confinados com duas
cabras naturalmente infectadas, propiciando a análise de transmissão horizontal. Os
grupos foram monitorados por immunoblotting (IB), ensaio imunoenzimático (ELISA),
imunodifusão em gel de agarose (IDGA) e reação em cadeia da polimerase do tipo
nested (nPCR). Todos os cordeiros que mamaram colostro e leite de cabras infectadas e
seis ovinos do grupo contato apresentaram resultados positivos na nPCR, apesar de
soroconversão somente ter sido detectada em três dos 26 animais expostos, não havendo
manifestação clínica de lentiviroses, em 720 dias de observação. Análises filogenéticas
demonstraram estreita relação entre sequências virais obtidas dos animais infectados e
sequência do protótipo lentiviral caprino CAEV-Cork. Dessa forma, concluiu-se que os
lentivírus foram transmitidos de caprinos para ovinos, entretanto, o grau de adaptação
da cepa viral à espécie hospedeira provavelmente interfere na persistência da infecção,
taxa de soroconversão e manifestação da doença. Outras avaliações ainda foram
conduzidas nos grupos colostro e controle, para estudo da transferência de imunidade
passiva colostral contra LVPR, em cordeiros. Determinaram-se as concentrações de
proteína sérica total (PST), albumina (ALB), globulinas (GLOB) e imunoglobulina G
(IgG). Em ambos os grupos, as menores médias de PST, GLOB e IgG foram observadas
ao nascimento e as maiores médias foram constatadas às 24 horas de vida, devido à
absorção de imunoglobulinas colostrais. Para o grupo colostro, a transferência de
imunidade também pôde ser constatada pelas provas de imunodiagnóstico. Ao
nascimento, os animais estavam soronegativos. Com 24 horas, todos foram reagentes
nos três testes sorológicos. Posteriormente, resultados negativos começaram a ser
observados, a partir dos 15 dias de idade, pela prova de IDGA. Já pelo teste de ELISA,
todos os animais permaneceram reagentes até os 50 dias de vida. Apenas o IB foi capaz
de detectar anticorpos anti-LVPR aos 70 dias. Esses dados estão de acordo com a
sensibilidade e especificidade de cada prova sorológica e demonstram que aos 90 e 120
dias de idade, anticorpos colostrais anti-LVPR não mais são detectados no soro de
cordeiros, com o emprego dessas metodologias.