A presente dissertação cuida do conceito de amor em Kierkegaard, destacando a experiência de doação, haurida da palavra grega agápe no contexto do mandamento crístico: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Segundo o filósofo danês, o mandamento revela uma experiência amorosa que transcende o homem, levando-o a amar ao primeiro Tu, enquanto liberta-o do restrito amor natural, que ama ao outro, na forma de um amor de si, amor ao segundo Eu. O amor agápe é o vínculo entre a eternidade e a temporalidade. Este vínculo é a relação tensiva entre movimento e repouso, que, em sendo movimento, acontece, ocorre, na vida humana. Esta relação sofre variações da tensão, a qual, oportunamente, irrompe em retensão dando o tom da ação amorosa; como uma voz que reboa nos ouvidos do amoroso, convocando-o para a obra do amor. A resposta à interpelação redundará na apaixonada decisão da fé, o éros sublime, que, em tensão com agápe, impele o homem a viver no devenir da vida, não obstante os riscos que a existência comporta. A retensão da fé, o instante de decisão, é uma experiência passível de repetição/protensão, i. é, da possibilidade de retomada e agravamento da experiência fontal no sentido do amor doador, o eixo em torno do qual, em alegria, o amoroso realiza a obra.