Objetivou-se caracterizar as sete propriedades leiteiras orgânicas certificadas no estado
do Rio de Janeiro quanto à produção, manejo nutricional, manejo sanitário e qualidade do leite.
Pretendeu-se, também, realizar um estudo de caso em uma destas fazendas orgânicas estudadas
quanto à qualidade do leite e monitoramento da mastite subclínica pela contagem de células
somáticas (CCS) individuais. As visitas ocorreram de abril a dezembro de 2019. Os dados foram
obtidos por meio de entrevistas realizadas com os proprietários (ou responsáveis), utilizandose um questionário semiestruturado. Foram coletadas amostras de leite em seis propriedade (em
setembro e dezembro de 2019) do tanque de expansão ou latões para análise dos indicadores de
composição, CCS, contagem bacteriana total (CBT) e presença de resíduos de antibióticos no
leite. Estas amostras foram analisadas no Laboratório Clínica do Leite (ESALQ/USP), em
Piracicaba, SP. Dados retroativos de uma das fazendas estudadas sobre a qualidade do leite do
tanque de expansão, no período de dezembro de 2016 a junho de 2019, e análises de CCS
individuais de 68 animais, no período de janeiro de 2017 a abril de 2018, foram agrupados e
avaliados. Todos os dados foram analisados de forma descritiva, exploratória e com abordagem
quantitativa e qualitativa. Os produtores tinham em média 60 anos de idade, 72% eram do
gênero masculino e apresentavam ensino superior completo. O tamanho médio das
propriedades foi de 149, 5 hectares. A média da produção total diária de leite foi de 194,3 L/dia.
O número médio de vacas em lactação foi de 22 animais, com produção média de 8,7 L/vaca
ordenhada. Das propriedades, 86% utilizavam a ordenha mecanizada, adotavam a
suplementação de volumoso e concentrado para vacas em lactação e apresentavam assistência
veterinária; e todas utilizavam a homeopatia para controle das enfermidades. Os principais
problemas sanitários relatados foram: ectoparasitos, aborto, verminose e mastite. A média de
CCS das propriedades foi de 363 x 103 CS/mL no final do período seco e de 483 x 103 CS/mL
no início do período chuvoso. A média de CBT foi de 382 x 103
unidades formadoras de colônia
(UFC)/mL e todas as propriedades apresentaram negatividade para resíduos de antibiótico no
leite. Em relação aos resultados de CCS individuais do estudo de caso, o percentual de vacas
crônicas variou de 14% (julho/2017) a 31% (novembro/2017) e para vacas curadas variou de
0% em (julho/2017) a 36% (abril/2018). Constatou-se um baixo aproveitamento das áreas das
propriedades, que poderiam ser melhor utilizadas para a produção de insumos orgânicos e
contribuir para a autossuficiência das mesmas. A homeopatia foi a terapia alternativa
majoritariamente adotada. Quanto à qualidade do leite, na média as propriedade apresentaram
conformidade com a IN nº 76/2018 em todos os parâmetros exigidos, sugerindo que as práticas
sanitárias alternativas são eficientes. O monitoramento da mastite subclínica através da CCS
individual constitui uma ferramenta que auxilia o produtor nas estratégias de prevenção da
doença.