DOMICIANO, L. F. Características agronômicas e fisiológicas e indicadores
químicos da silagem de milho em sistemas lavoura-pecuária-floresta. 2020, 112f.
Tese (Doutor em Ciência Animal), Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal,
Faculdade de Agronomia e Zootecnia, Universidade Federal de Mato Grosso,
Cuiabá, 2020.
O milho é uma cultura muito importante em todo o mundo como um dos principais
alimentos para a segurança alimentar, especialmente nos países em
desenvolvimento. No entanto, a crescente demanda por alimentos e recursos de
energia renovável tem sido tratada em estudos sobre interações de competitividade
e complementaridade entre árvores, culturas e animais. Assim, os sistemas
integrados, em suas diversas combinações, devem promover uma relação
sinérgica entre os componentes, o que pode resultar em maior produção pelas
culturas, animais e silvicultura. Em revisão de literatura (capítulo I), chegou-se às
conclusões que o aumento do carbono orgânico do solo em sistemas integrados
melhora as suas propriedades físicas, químicas e biológicas. Maior rendimento de
milho e economia de recursos são possíveis com o uso de inoculantes microbianos.
No milho, a ação dos inoculantes é potencializada quando associada a fertilizantes
e/ou biocarvão, pois o biocarvão atua no condicionamento do solo, aumentando a
absorção e a retenção de água e nutrientes no solo. O milho cultivado entre as
linhas das árvores pode se adaptar à sombra moderada, mas reduz a
produtividade. A produção de silagem de milho com grande valor nutritivo em
sistemas integrados é uma alternativa à produção de grãos. Com base nestas
conclusões, identificou-se a necessidade de pesquisas nas áreas de melhoramento
genético para a produção de milho menos suscetíveis a sombreamento, manejo do
sistema integrado para minimizar a competição, quantificação do perfil de luz
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estratificado por componente do sistema (árvore, milho e capim) e modelos
matemáticos mais complexos e precisos para prever as possibilidades de sucesso
dos sistemas integrados. Além disso, desenvolveu-se dois experimentos com o
objetivo de comparar as características produtivas e fisiológicas do milho (Zea mays
L.) (capítulo II) e as perdas, perfil fermentativo e valor nutritivo da silagem (capítulo
III) em milho consorciado com capim-marandu [Brachiaria (syn. Urochloa) brizantha
(Hochst. ex A. Rich.) R. D. Webster] cultivados a pleno sol (PS), ou em lavoura-
pecuária-floresta com renques de linhas simples (LPFs) e linhas triplas (LPFt) com
eucalipto (Eucalyptus urograndis clone H13). As linhas de árvores (renques) foram
espaçadas na entre-linhas, entre-árvores e entre-renques com 3,5 × 3,0 × 30 m,
atualmente (após desbaste) com 135 árvores ha–1 para LPFt e 37 × 3.0 m (entre-
linhas e entre-árvores) com 90 árvores ha–1 para LPFs. Na lavoura-pecuária-
floresta, a amostragem ocorreu a 7 e 13 m ao sul, central, 13 e 7 m ao norte, na
área não-arborizada, a partir da linha central das árvores em um renque. No
capítulo II, observou-se que a massa de forragem (milho + capim-marandu) e a
produtividade de milho por área do sistema diminuíram de acordo com a
transmissão da luz e a razão vermelho: vermelho distante, com massa de forragem
de 10,9, 9,5 e 6,2 Mg MS ha–1 em 2017 e 28,9, 21,5 e 14,0 Mg MS ha–1 em 2018
para os sistemas PS, LPFs e LPFt, respectivamente, e produtividade de grãos foi
de 3,38, 3,34 e 1,66 Mg MS ha–1 em 2017 e 7,90, 4,66 e 2,55 Mg MS ha–1 em 2018
para PS, LPFs e LPFt. Observou-se que uma redução de até 13% na transmissão
da luz não afetou a produtividade de grãos. A massa de forragem (10,1 e 23,9 Mg
MS ha–1 em 2017 e 2018) e a produtividade de grãos (3,3 e 5,0 Mg MS ha–1 em
2017 e 2018) nas distâncias central e 13 m norte foram maiores que nos 7 m norte
e sul, distâncias com menos transmissão de radiação fotossinteticamente ativa e
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razão vermelho: vermelho distante. Os menores valores de massa de forragem e
produção de milho nas distâncias próximas às árvores foram devidos às menores
taxas dos processos fisiológicos, reduzindo a altura, a massa de forragem e a
produtividade do milho. No capítulo III, observou-se que as perdas de compostos
orgânicos voláteis (63,3 g kg–1 MS) e efluentes (4,62 g kg–1 de forragem) e o teor
de N-amoniacal (64,3 g kg–1do N total) no LPFt foram maiores que os LPFs, o que
pode estar associado ao menor teor de matéria seca deste sistema. O teor de
cinzas e proteínas brutas, além de fibra em detergente neutro e ácido no LPFs, foi
semelhante ao PS, mas menor que o LPFt. O menor teor de fibra resultou em maior
digestibilidade da silagem de milho no LPFs (594 g kg–1 MS) do que nos sistemas
LPFt e PS (550 g kg–1 MS). Assim, conclui-se que a massa de forragem e
produtividade do milho em lavoura-pecuária-floresta é afetada pela transmissão da
radiação através árvores e essa redução reduz as atividades fisiológicas do milho.
Essas mudanças morfofisiológicas, impulsionadas pela transmissão da luz e
redução da razão vermelho: vermelho distante, impactam nas propriedades
fermentativas e nutritivas da silagem de milho, aumentando o teor de proteína bruta,
mas aumentando as perdas fermentativas e o teor de fibra da parede celular,
reduzindo a digestibilidade da silagem de milho.